NOTICIÁRIO Segunda-feira, 10 de Março de 2025, 14:49 - A | A

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TRAGÉDIA SEM FIM

Feminicídio em MT: interrupção brutal de vidas e carreiras promissoras

Da Redação com PJC

Em um cenário alarmante que evidencia a persistência da violência de gênero no Brasil, um relatório recente da Diretoria de Inteligência da Polícia Civil de Mato Grosso revela dados chocantes sobre os casos de feminicídio no estado durante o ano de 2024. O documento expõe não apenas a brutalidade dos crimes, mas também o impacto devastador na sociedade, com a perda de mulheres em plena fase produtiva e o consequente desamparo de dezenas de crianças.

O estudo aponta que 85% das mulheres assassinadas em Mato Grosso no ano passado estavam em idade economicamente ativa, com potencial para construir carreiras sólidas e contribuir significativamente para a economia local. Deste total, 32% tinham entre 18 e 29 anos, enquanto 53% estavam na faixa etária de 30 a 39 anos.

"Esses dados são particularmente alarmantes porque revelam que estamos perdendo mulheres no auge de sua capacidade produtiva e criativa", afirma a delegada-chefe da Diretoria de Inteligência, que preferiu não ser identificada. "Não são apenas vidas interrompidas, são carreiras, sonhos e contribuições sociais que nunca se realizarão."

Entre os casos que chocaram o estado em 2024, destaca-se o de Raquel Maziero Cattani, uma jovem agricultora e empresária de 26 anos. Raquel foi brutalmente assassinada em julho, em seu próprio sítio no assentamento Pontal do Marape, zona rural de Nova Mutum.

"O caso de Raquel é um exemplo trágico de como o feminicídio afeta não apenas a vítima, mas toda uma rede de pessoas dependentes", declara o investigador-chefe do caso. "Duas crianças ficaram órfãs, uma comunidade perdeu uma empreendedora promissora, e o estado viu-se privado de uma cidadã que contribuía ativamente para o desenvolvimento econômico local."

O crime, orquestrado pelo ex-marido de Raquel, que contratou o próprio irmão para executá-la, demonstra o nível de premeditação e crueldade envolvidos em muitos casos de feminicídio. A rápida ação da Polícia Civil, que prendeu os irmãos Romero e Rodrigo Xavier Mengarde apenas cinco dias após o crime, é um exemplo de como investigações meticulosas podem ser cruciais para a resolução desses casos.

O relatório também traz à luz dados importantes sobre o nível educacional e ocupacional das vítimas. Surpreendentemente, 57% delas tinham apenas o ensino fundamental, enquanto 25% haviam concluído o ensino médio. Apenas 11% possuíam ensino superior."Esses números indicam uma possível correlação entre o nível educacional e a vulnerabilidade à violência doméstica", pondera uma socióloga consultada para comentar o relatório. "É crucial que políticas públicas de combate ao feminicídio levem em conta essa realidade e trabalhem para empoderar mulheres através da educação e da independência financeira."

Apesar do baixo nível educacional médio, 76% das vítimas exerciam alguma atividade remunerada, ocupando funções como auxiliar de limpeza, vendedora, diarista, manicure, cabeleireira e professora. Este dado reforça o impacto econômico do feminicídio, não apenas para as famílias das vítimas, mas para a sociedade como um todo.

 A Proximidade do Agressor

Um dos aspectos mais perturbadores revelados pelo relatório é a proximidade entre vítimas e agressores. Em 57% dos casos, os crimes foram cometidos por parceiros íntimos atuais, enquanto 17% foram perpetrados por ex-namorados ou ex-conviventes.

"Esses números mostram que o lar, que deveria ser um local de segurança e afeto, muitas vezes se torna um ambiente de risco para mulheres", afirma uma psicóloga especializada em violência doméstica. "É fundamental que haja uma mudança cultural profunda na forma como as relações íntimas são construídas e mantidas em nossa sociedade."

O estudo também revela que 36% das mulheres assassinadas tinham relações de 1 a 5 anos com os autores, e 19% mantinham relacionamentos de 10 a 20 anos com seus agressores. Esses dados sugerem que a violência pode estar presente em relacionamentos de diferentes durações, desde os mais recentes até os mais longos.

Desde 2021, a Diretoria de Inteligência da Polícia Civil de Mato Grosso tem produzido relatórios anuais sobre os feminicídios no estado. Essa iniciativa tem se mostrado crucial para compreender melhor o fenômeno e direcionar políticas públicas mais eficazes.

"A produção sistemática desses relatórios nos permite identificar padrões, tendências e áreas de maior vulnerabilidade", explica o coordenador da equipe responsável pela elaboração do documento. "Com essas informações, podemos não apenas aprimorar nossas estratégias de investigação, mas também colaborar com outros órgãos públicos na prevenção desses crimes."

 Desafios e Caminhos para o Futuro

O relatório da Polícia Civil de Mato Grosso lança luz sobre uma realidade sombria, mas também aponta caminhos para o enfrentamento do problema. A identificação clara do perfil das vítimas e dos agressores permite a elaboração de políticas públicas mais direcionadas e eficazes.

"É evidente que precisamos de uma abordagem multifacetada para combater o feminicídio", conclui a delegada-chefe da Diretoria de Inteligência. "Isso inclui educação desde a infância sobre igualdade de gênero, fortalecimento das redes de proteção às mulheres, aprimoramento das leis e sua aplicação, e um trabalho contínuo de conscientização social."

O desafio agora é transformar esses dados em ações concretas que possam prevenir futuros casos de feminicídio e proteger as mulheres que estão em situação de vulnerabilidade. Somente com um esforço conjunto da sociedade civil, das autoridades públicas e do poder judiciário será possível reverter esse quadro trágico e construir um futuro onde mulheres possam viver sem medo e desenvolver plenamente seu potencial.

Fonte: Relatório elaborado pela Diretoria de Inteligência da Polícia Civil de Mato Grosso sobre os casos de feminicídios registrados em 2024.



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