No ano de 2024, Mato Grosso foi palco de um cenário aterrador de violência de gênero que deixou um rastro indelével de sofrimento e perdas irreparáveis. De acordo com o relatório "Mortes Violentas de Mulheres e Meninas em Mato Grosso por razões de gênero 2024", produzido pela Diretoria de Inteligência da Polícia Civil, 47 mulheres foram assassinadas, resultando em 89 crianças e adolescentes órfãos. Este documento detalha as assombrosas estatísticas por trás dessa realidade, suas causas e impactos, e os esforços implementados para enfrentar essa questão sistêmica e cultural.
Das 47 mulheres vítimas de feminicídio, 41 eram mães. Muitos desses assassinatos foram assistidos pelos próprios filhos, o que ilustra a crueldade desses crimes. Por exemplo, Gleiciane de Souza, de 35 anos, foi cruelmente assassinada pelo esposo na frente dos filhos. Esse tipo de violência não apenas toma a vida das mulheres, mas também marca profundamente as crianças, em muitos casos, criando um ciclo intergeracional de trauma e violência.
Perfil das Vítimas e Agressores
O estudo revela que a maioria das mortes aconteceu em ambientes domésticos, perpetradas por parceiros ou ex-parceiros. A maioria das vítimas, com idades entre 18 e 39 anos, eram mães, e 60% se autodeclararam de cor parda. As armas mais utilizadas foram cortantes ou perfurantes, destacando a agressividade e a premeditação dos crimes. Este padrão sublinha a necessidade urgente de proteção para mulheres em situações vulneráveis, e a importância de políticas que abordem as raízes culturais dessa violência.
Esforços e Desafios na Prevenção
A Polícia Civil do estado intensificou suas medidas de proteção e prevenção. Em 2024, houve um aumento significativo no número de medidas protetivas de urgência emitidas. O aplicativo SOS Mulher MT, uma ferramenta inovadora, permite que mulheres solicitem proteção sem precisar ir fisicamente a uma delegacia. No entanto, apesar desses esforços, o aumento no descumprimento dessas medidas mostra que a aplicação da lei ainda enfrenta desafios significativos.
A Lei 14.994/2024, sancionada como parte do "Pacote Antifeminicídio", trouxe mudanças importantes, endurecendo penas para agressores e classificando feminicídio como crime hediondo. Apesar disso, como destacou a delegada-geral da Polícia Civil, Daniela Maidel, a mudança nas leis, embora crucial, é insuficiente por si só para enfrentar um problema tão enraizado na cultura e sociedade.
Uma Questão Estrutural e Cultural
O relatório ressalta que a violência contra a mulher é um problema estrutural, alimentado por machismo, impunidade e desigualdade social, que exige uma abordagem multifacetada. Além de mudanças legais, um compromisso coletivo é necessário para promover uma transformação cultural. A educação, tanto formal quanto dentro do contexto familiar, desempenha um papel vital na mudança de atitude em relação ao papel e valor das mulheres na sociedade.
Testemunhos do Horror e Esperança
Histórias de vítimas como Gleiciane e Leidiane Ferro da Silva trazem à tona o terrível custo humano dessa violência. Esses casos não são isolados, mas sim representativos de um padrão preocupante. A delegada Mariell Antonini Dias ressalta que muitas vítimas subestimam a seriedade das ameaças antes que seja tarde demais, destacando a importância de as mulheres buscarem ajuda ao primeiro sinal de violência.
Caminhos para o Futuro
Neste contexto, a Polícia Civil tem lançado mão de campanhas educativas, parcerias com outras entidades, e operações para aumentar a conscientização e prevenir a violência. Daniela Maidel reforça que é necessário avançar na criação de políticas públicas efetivas que lidem não apenas com a repressão da violência, mas também com a sua prevenção por meio de educação e transformação social.