Em 2022, o país enviou 1,23 milhão de toneladas de carne bovina para a China. O volume é 71% maior do que o embarque registrado em 2021. O valor dos negócios também aumentou, ou melhor, dobrou no período, e chegou a US$ 7,951 bilhões. Isso já é o suficiente para mostrar a importância do mercado chinês para a pecuária brasileira, para a indústria da carne e para a Balança Comercial do país. E é por isso que o tema é tratado com tanta seriedade pelas autoridades.
Mês passado, um touro de nove anos foi identificado com Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), o mal da vaca louca. Imediatamente o serviço sanitário abateu e incinerou o animal e enviou o material para análises laboratoriais. No Brasil foi confirmada a doença e o laboratório de referência mundial, localizado no Canadá, confirmou se tratar de um caso atípico. Ou seja, sem risco de contaminação à saúde humana ou de outros animais.
Assim que o caso foi identificado, de forma espontânea, como previsto em protocolo de exportação, o Brasil suspendeu os embarques de carne bovina para a China. Sim, a China, que compra tanta carne nossa. Uma ação clara de transparência e responsabilidade. Atributos, aliás, muito valorizados pelos parceiros asiáticos.
Desde que o comércio de carne para a China se intensificou, a partir de 2019, os negócios vêm crescendo exponencialmente, mesmo quando outros casos atípicos de vaca louco são registrados. Em 2021, quando a China ficou 100 dias fora do mercado da carne brasileira, também pelo registro de dois casos atípicos, toda a cadeia produtiva sentiu os efeitos, mas assim que o país retornou as exportação foram plenamente restabelecidas.
No final deste mês está prevista uma visita do presidente Lula à China. Uma iniciativa que chama a atenção de todo o mundo. Desde sua posse, visitou primeiramente os países vizinhos, no mês passado foi aos Estados Unidos, a maior potência mundial e também um vizinho continental. Agora alça voos mais longos, buscando estreitar a relação com importantes parceiros comerciais. A ordem das viagens segue, vamos dizer, uma sabedoria diplomática para que nenhuma relação seja abalada.
Na mala, Lula deve levar não apenas o resultado do laboratório canadense, mas também sugestões para atualizar o protocolo de exportação da carne. A mudança no protocolo comercial não deve acontecer em momentos de crise, o Brasil não teria como argumentar o relaxamento nos critérios de suspensão de exportação em meio a uma investigação de um caso de vaca louca. Não há margem para isso. Agora, com todas as questões sanitárias em dia, a chance de sucesso na revisão do acordo é muito maior.
Quando a China habilitou o Brasil como fornecedor de carne bovina, abriu-se a porta para um mercado consumidor enorme. Na época, o que se pensava era “se cada chinês comer um bifinho por mês, estamos no lucro”, parafraseando a pesquisadora Mariane Crespoline. O destino quis que o bife caísse no gosto chinês, influenciado pela crise provocada pela gripe aviária, e hoje temos um mercado ávido por proteína, que o Brasil pode sim fornecer.
O Brasil possui status sanitário de risco insignificante para EEB, ou vaca louca, desde 2013, na OIE (Ordem Mundial de Sanidade Animal). A excelência do serviço sanitário brasileiro é reconhecida internacionalmente. A qualidade da carne brasileira vem aumentando ano após ano com o melhoramento genético dos animais. Cada vez mais os produtores e governos, estaduais e federal, demonstram responsabilidade com relação à sustentabilidade, buscam implementar práticas de bem-estar animal e responsabilidade socioambiental.
Existe um provérbio chinês que diz, ser pedra é fácil, o difícil é ser vidraça. Agora é hora de maturidade. Em meio a um problema, é preciso destacar os méritos, reforçar a transparência e ter calma para que ações sejam tomadas com responsabilidade. Logo, os chineses voltam a ter seu bifinho na mesa, as indústrias recuperam a receita e a arroba do boi retoma o patamar.