A Política, ou aquilo que se fez dela, tem sido assunto e prato constante na mesa dos brasileiros, em nossas televisões e jornais, em nossas conversas diárias e, muitas vezes, como fundamento de nossas angústias ou esperanças, de nossos ódios e amores.
Isso tende a se intensificar com a chegada de um novo processo eleitoral, mas além de simplesmente seguirmos com a maré e repetirmos aquilo que se tem feito em nossa história política, apresenta-se a nós um outro caminho, uma oportunidade de refletir; será que a Política é isso que estamos fazendo dela? E ser político é somente buscar um cargo eletivo ou será que todos temos um papel essencial a desempenhar?
Diferente do que se tem visto diariamente, a Política não é a mera disputa de interesses, a imposição de uma opinião sobre a outra, por vezes através de expedientes escusos, de meias verdades ou até mesmo de mentiras, as tais fake news, visando apenas reforçar aquilo que se alinha com nossas preferências, tomando o outro e sua visão de mundo como inimigo, mas sim a arte de buscar consensos, de produzir sínteses que possam nos levar à construção do bem-estar coletivo. É a ciência de buscar o bem comum.
Mesmo na origem de sua palavra, Política deriva de Polis, que em grego quer dizer cidade ou coletividade, e Ethos, a Ética ou os costumes, ou seja; é a ciência da vida em comunidade, é a busca por harmonizar interesses que por vezes parecem divergentes, mas que se encontram no interesse mútuo da construção de uma sociedade mais justa, mais saudável e próspera, onde cada um possa encontrar e realizar seu verdadeiro potencial, contribuindo com a construção coletiva da felicidade.
Quando surgiu entre os pensadores gregos a palavra Politikós (Político) não se referia apenas àqueles que eram eleitos ou ocupavam cargos no estado, mas sim a todo cidadão que, consciente de seu dever com a comunidade, dedicava-se a pensar na ‘coisa pública’ e como poderia participar deste todo em construção, onde cada um é parte essencial.
Ou seja, ser Político não é disputar eleições, não é escolher candidatos, uns para defender e outros para atacar, mas sim buscar aplicar em nossa vida a construção do consenso, harmonizando interesses ou opiniões que podem parecer divergentes quando olhados superficialmente, mas que se sustentam em uma busca que é comum: o bem-estar, a justiça e a felicidade.
Todos acreditamos estar defendendo aquilo que é certo, mas tendemos a focar em nossos interesses pessoais e a endossar coletivamente as narrativas que parecem concordar com nossas opiniões, mas para realmente avançar na construção de nossa sociedade, urge desenvolvermos o aspecto político de nossas vidas, todos nós, em nossas famílias, em nossa vizinhança, em nosso ambiente de trabalho, no trânsito, nas redes sociais e em todos os espaços que frequentamos. É preciso nos conscientizarmos de que somos uma unidade, pois acreditar que o bem de um pode vir do dano ao outro é gerar um estado de perpétuo conflito, onde não existem vitoriosos, mas meramente a alternância de uns sobre os outros, nos afastando da verdadeira Política, e consequentemente, da Felicidade.
Urge sermos Políticos e podemos começar refletindo sobre como nos relacionamos com os demais, se estamos dispostos a questionar nossos pontos de vista, sempre em busca de maior entendimento, bem como se estamos dispostos a explicar aos outros, sem arrogância ou pré-conceitos, a forma como pensamos e entendemos o mundo. Deste encontro nascerá o entendimento, a tolerância, a compreensão e, como ensinam os filósofos políticos, a Civilização, que não é apenas o aglomerado de pessoas que vivem juntas, mas a união dos indivíduos em prol de um bem universal e da realização de cada parte que compõe o todo.
Neste ponto, a ciência política pode converter-se em uma arte, graças ao seu refinamento, e produzir harmonia e beleza. Basta que estejamos dispostos, hoje e agora, a desenvolvermos a arte de sermos Políticos.
