NOTICIÁRIO Terça-feira, 22 de Dezembro de 2020, 19:03 - A | A

Terça-feira, 22 de Dezembro de 2020, 19h:03 - A | A

COM PRISÃO DE CRIVELLA

Veterano na Câmara, Jorge Felippe assume prefeitura do Rio e pede tranquilidade

Estadão Conteúdo

Com a prisão do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos) o presidente da Câmara de Vereadores do Rio, Jorge Felippe (DEM), assume o cargo interinamente pelos próximos nove dias. O vice-prefeito eleito na chapa vencedora em 2016, Fernando Mac Dowell, morreu em 2018 vítima de um enfarte. Aos 70 anos e caminhando para seu oitavo mandato como vereador, Felippe terá como prioridades nesse curto período o pagamento do 13º dos servidores municipais e o combate à covid-19.

"Quero tranquilizar os moradores da cidade do Rio de Janeiro garantindo que a cidade não ficará sem comando nestes últimos dias da atual gestão. Já estou me encaminhando para a prefeitura onde vou tomar as rédeas da situação cumprindo o que determina a nossa Constituição", disse em uma postagem no Twitter.

Desde que foi comunicado da interinidade, Felippe já se reuniu com 12 secretários municipais. A orientação a todos os servidores e aos dirigentes de empresas e órgãos é que "mantenham a máquina pública a pleno vapor", afirmou à população nas redes sociais.

Dentre as questões críticas a serem resolvidas está o pagamento do 13º dos servidores municipais. Ontem, Crivella havia anunciado para a quarta-feira o depósito para aqueles que recebem até R$ 3 mil. Em entrevista à TV Globo, Jorge Felippe confirmou a data e disse que a Secretaria de Fazenda está realizando um levantamento para saber se será possível pagar os demais servidores. À GloboNews, ele afirmou que não vê "expectativa promissora" nesse sentido, mas que o pagamento dos salários de dezembro em janeiro está assegurado.

O prefeito em exercício disse ainda que vai estudar todas as sugestões de medidas de saúde pública feitas pelo Comitê Científico a Crivella em relação à pandemia da covid-19 e não adotadas, para avaliar a possibilidade de implementar mudanças. As possíveis medidas serão discutidas com o governador em exercício do Rio, Cláudio Castro, e com o futuro secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz. Ele não descartou a possibilidade de Soranz assumir antecipadamente o cargo, interinamente assumido nesta terça-feira por Jorge Darze após a exoneração de Ana Beatriz Busch.

"Estamos tomando conhecimento da situação da prefeitura sob o aspecto financeiro e do combate à pandemia", afirmou Felippe, que defendeu ainda "preservar a vida acima de tudo".

Felippe confessou ter ficado surpreso com a prisão de Crivella às vésperas do fim do mandato, mas lembrou que o prefeito respondeu a cinco pedidos de impeachment na Câmara Municipal.

Felippe disse que já conversou com o prefeito eleito Eduardo Paes, também do Democratas. "A transição vai continuar e vamos fornecer todas as informações necessárias para a nova equipe. Vamos garantir o pleno funcionamento dos serviços municipais até o dia 1º de janeiro. O Rio de Janeiro tem prefeito", afirmou.

QG da propina

O Ministério Público do Rio afirmou que o esquema do "QG da Propina" na gestão do prefeito Crivella, preso pela manhã, arrecadou mais de R$ 50 milhões durante o mandato. Esse é o valor da indenização estipulada na denúncia contra o mandatário e outras 25 pessoas por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

"Essa organização criminosa prosseguiu mesmo após duas operações de busca e apreensão, mesmo sabendo que a investigação estava em curso. Nem assim as atividades cessaram", disse o subprocurador-geral de Justiça Ricardo Martins.

Uma das fontes de arrecadação era a cobrança de um porcentual sobre restos a pagar a empresas que precisavam receber valores da Prefeitura. Em troca de serem favorecidas, elas desembolsavam propina calculada em cima desses próprios valores, numa espécie de "ganha-ganha".

O esquema foi descoberto a partir da delação premiada do doleiro Sérgio Mizrahy, preso no âmbito da operação Câmbio Desligo, um dos desdobramentos da Lava Jato fluminense. Segundo ele, o suposto QG funcionaria assim: empresas interessadas em trabalhar para o Executivo carioca entregavam cheques ao empresário Rafael Alves, um dos presos na operação desta terça-feira, que faria a ponte com a Prefeitura para encaminhar os contratos. O esquema também funcionaria no caso de empresas com as quais o município tinha dívidas - aqui, o operador mediaria o pagamento.

Prisão

O Ministério Público do Rio e a Polícia Civil fluminense prenderam na manhã desta terça-feira o prefeito do Rio. Ex-senador, ex-ministro da Pesca no governo Dilma Rousseff e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, Crivella é acusado de participação em um esquema de corrupção na Prefeitura do Rio, conhecido como "QG da Propina". O prefeito foi detido por policiais em casa, a nove dias do encerramento do mandato.

"Foi o governo que mais atuou contra a corrupção", declarou Crivella, ao chegar à Cidade da Polícia, no bairro do Jacarezinho, na zona norte do Rio, em rápida coletiva, pouco após as 6h30. Ele atribuiu a prisão a suposta "perseguição política" e disse esperar "justiça".

Na mesma operação, foram presos o empresário Rafael Alves e o delegado aposentado Fernando Moraes, ex-vereador e que foi chefe da Divisão Antissequestro. O ex-senador Eduardo Lopes também é alvo da ação, mas não foi encontrado.

As prisões são desdobramento da Operação Hades. Segundo o MP do Rio, Alves receberia propina de empresas para, em troca, facilitar a assinatura de contratos e o pagamento de dívidas no Executivo municipal. Ele é irmão de Marcelo Alves, que foi presidente da Riotur. Os desvios seriam operados por um suposto "QG da Propina".

Na campanha pela reeleição, sobretudo no segundo turno, Crivella teve no combate à corrupção uma de suas bandeiras prioritárias. Ele reafirmava que seu adversário Eduardo Paes (DEM), que o derrotou, iria para a cadeia, por corrupção durante seus dois mandatos na prefeitura, de 2009 a 2016.



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