Quatro anos após sua tentativa frustrada de se manter no poder, Donald John Trump, aos 78 anos, retorna à presidência dos Estados Unidos, tornando-se o mais velho candidato eleito na história do país. Sua vitória marca uma significativa guinada à direita, com um forte endosso do eleitorado americano.
Em um discurso na madrugada desta quarta-feira (6), na Flórida, onde acompanhou a apuração, Trump declarou: "A América nos deu um mandato sem precedentes". Pouco depois, foi projetada sua vitória com 276 dos 538 votos do Colégio Eleitoral. Além disso, Trump superou suas conquistas de 2016 ao vencer no voto popular, acumulando 68 milhões de votos contra 62,9 milhões de Kamala Harris. Essa foi a primeira vez que um republicano alcançou tal feito desde George W. Bush, em 2004.
Trump obteve um desempenho notável entre eleitores negros e latinos, como revelaram as pesquisas de boca de urna. Desde 2016, sua popularidade nesses grupos vem crescendo, com os republicanos concentrando esforços em jovens homens desse eleitorado, uma estratégia que se mostrou eficaz. Em um movimento histórico, o republicano virou a região de Miami para seu partido pela primeira vez desde 1988 e melhorou seu desempenho em bastiões democratas como Nova York. Ele também conquistou avanços nos subúrbios, superando os democratas em um ambiente competitivo.
No Senado, os republicanos retomaram o controle ao assegurarem 51 dos 100 assentos. Havia também expectativas de que mantivessem o domínio na Câmara, um cenário desafiador para os democratas.
A vitória de Trump sobre Kamala Harris representa uma reviravolta impressionante, especialmente após seu futuro político ter sido questionado com a invasão do Capitólio por seus apoiadores, incitados por ele, para impedir a confirmação de Joe Biden. Trump também se torna o primeiro ex-presidente dos EUA a ser condenado em um processo criminal, mas ainda assim, volta à Casa Branca.
O retorno de Trump à presidência é um evento raro na história americana, comparável apenas ao caso de Grover Cleveland, que serviu dois mandatos não consecutivos no final do século XIX. Tal cenário, em que o partido no poder perde três eleições seguidas, reflete a insatisfação dos eleitores com a atual administração.
Enquanto Washington e o mundo se preparam para um novo período de incertezas sob a liderança de Trump, muitos analistas acreditam que ele terá mais liberdade para implementar suas políticas do que em seu primeiro mandato. Agora mais experiente, ele está cercado por um grupo fiel e melhor preparado, com apoio de influentes think tanks conservadores como a Fundação Heritage.
Com uma plataforma centrada em políticas anti-imigração e a favor da economia, Trump culpou os estrangeiros por diversos problemas nos Estados Unidos e prometeu medidas rigorosas, como grandes cortes de impostos e deportações em massa. Também apostou na crítica à gestão global de Biden, prometendo encerrar conflitos internacionais antes mesmo de sua posse.
Internacionalmente, a perspectiva do retorno de Trump gera apreensão, especialmente na Europa. Crítico da Otan, ele acusa os EUA de contribuírem desproporcionalmente para a aliança, o que poderia deixar os aliados europeus em alerta frente à ameaça russa.
Para muitos de seus apoiadores, a vitória de Trump parecia inevitável, reforçada por episódios como tentativas de assassinato contra ele. A reeleição solidifica a influência do movimento "Make America Great Again" no Partido Republicano.
O foco também se volta para seu vice, J.D. Vance, um populista com forte carga ideológica, que pode se tornar a nova face do movimento de Trump. Para Trump, além das políticas, a presidência também oferece uma proteção contra processos judiciais, incluindo aqueles relacionados a suas ações pós-eleitorais de 2020.
Com sua eleição, Trump pode pressionar por arquivamentos de processos que o envolvem, como o caso criminal ligado à Stormy Daniels e outras questões legais que, anteriormente, ameaçavam seu futuro político.