A Assembleia Legislativa de Mato Grosso analisa uma moção de repúdio contra o secretário municipal de Saúde, Luiz Antonio Possas de Carvalho, depois do gestor afirmar que os profissionais da saúde teriam se "acovardado" diante da pandemia do novo coronavírus na capital matogrossense, pedindo para sair da linha de frente do combate à doença.
O deputado estadual dr. Eugênio (PSB), que preside a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, afirmou que Possas adotou uma "conduta infeliz", que merece ser repudiada."Entre o profissional e a intriguinha de gestores, quem se acovarda?" questionou.
O deputado estadual Lúdio Cabral (PT), que também é médico sanitarista, ponderou que o momento não é de ataque, mas sim de acolhimento. "Secretário, vá passar 12 horas de plantão em uma unidade de saúde. Agora é hora de acolhimento não de ataque. Não é o momento para este tipo de ataque ser desferido. É preciso acolher o desgaste e a dor física e emocional desses profissionais".
Quem também repudiou as declarações de Possas foi o vereador Felipe Wellaton (Cidadania). "A ofensa não foi somente aos profissionais que estão na linha de frente do combate à Covid-19, foi a seus familiares expostos ao risco de contágio, a seus amigos que temem pela vida do ente querido, às entidades que estão lutando para garantir as mínimas condições de trabalho, como equipamentos de segurança, salário e número de profissionais suficientes para atender a demanda", asseverou, lembrando que não será com ofensas e "mentiras que vão desconstruir o histórico de luta e de salvamento dos profissionais do SUS-MT".
O vereador ainda lembrou que a postura de Possas ataca também todos aqueles que perderam seus empregos em função da pandemia, além dos que enfrentam a doença. "Suas palavras atacam os doentes, vítimas dessa doença e que dependem destes profissionais para sobreviver. Ferem aqueles que perderam um amigo, um pai, uma mãe e um filho".
Diante da fala de Possas, o Conselho Regional de Medicina (CRM) também não se calou. A presidente da entidade, Hildenete Monteiro Fortes rebateu o secretário, dizendo que sua atitude é uma forma de se eximir da responsabilidade sobre os problemas na saúde pública de Cuiabá. "O CRM-MT se recusa a fazer parte de um mundo de fantasias, onde se faz de conta que as unidades públicas estão atendendo a contento, onde se faz de conta que os profissionais de saúde estão trabalhando em condições adequadas e onde se faz de conta que há medicamentos e insumos hospitalares", disse.
“Possas de forma desrespeitosa disse que os médicos estão se acovardando, sendo que estamos na linha de frente. É fácil falar quando se está sentado no gabinete. Agora trabalhar nas policlínicas se expondo sem a proteção adequada e sem condições de trabalho, isso ele não leva em conta. O Sindimed/MT repudia veementemente tais ofensas à classe médica”, afirmou o diretor de comunicação do Sindicato dos Médicos (Sindimed/MT) Adeildo Lucena. "Consideramos sim o secretário um covarde que não assume suas responsabilidades”, complementou.
Diante da repercussão da sua fala, em entrevista concedida à TV Centro América, o secretário municipal de Saúde escreveu um artigo. Nele fala de todo o esquema que a prefeitura de Cuiabá adotou, ainda em janeiro, para se preparar para a pandemia. Pontua os problemas que enfrenta diariamente e reconhece o trabalho que vem sendo feito pelos profissionais de saúde.
"Como aconteceu no resto do mundo, além da população ficar doente, nossos profissionais de saúde começaram a ficar doentes também. Esse vírus é altamente contagioso, e, mesmo com todo o cuidado, muitos profissionais da saúde adoeceram. Para esses, que estão na linha de frente, cuidando da população, salvando vidas, eu só tenho a agradecer. Vocês são verdadeiros heróis, que honram as profissões que escolheram".
Possas ainda explica que quando disse que profissionais se "acovardaram", falava daqueles que entraram com pedido de afastamento sem motivo real. "Quando eu falo dos profissionais que se acovardaram, em momento algum me refiro a estes que estão lutando para salvar vidas. Também não me refiro aos que estão afastados por serem do grupo de risco, seja por idade ou por comorbidade. Me refiro aos que entraram com pedido de afastamento usando atestados sem terem motivos reais para isso".
De acordo com o secretário, a pasta registrou o pedido de afastamento de 1.500 profissionais. "Cada pedido destes foi periciado. Muitos destes pedidos foram indeferidos pelo médico que fez a perícia, pois ele constatou que não havia motivos para estes profissionais não trabalharem. São esses profissionais que eu disse que se acovardaram, pois ao invés de se juntarem às equipes que estão combatendo a pandemia, decidiram se esconder atrás de um atestado fajuto".
O gestor ainda pediu desculpas aos profissionais que se sentiram ofendidos e pediu união nesse momento de luta. "Agora não é hora de brigas políticas, de boicotes, de acusações... Agora é hora de união contra este inimigo que já ceifou mais de 60 mil vidas no país e quase 200 só aqui em Cuiabá. (...) Nós, gestores e os profissionais da saúde não somos o inimigo! Nós estamos trabalhando arduamente para salvarmos vidas! Precisamos de toda a ajuda possível para ganharmos esta guerra e voltarmos ao normal. E só vamos ganhar se estivermos unidos!"