Cinco meses após o início da pandemia de Covid-19, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) anunciou a retomada das aulas de forma não presencial (online e off-line) a partir do dia 03 de agosto. Esse retorno virtual consta no plano estratégico para reabertura das escolas, que ainda não tem data para acontecer.
A rede estadual de ensino em Mato Grosso conta com 368,3 mil matrículas e 759 unidades educacionais que seguem dois calendários diferentes.
Em virtude da greve dos professores em 2019, algumas escolas não terminaram o ano letivo e, por isso, as aulas se estenderam até fevereiro de 2020. Nestas, a previsão do início do ano letivo de 2020 seria no dia 23 de março, momento em que as aulas foram suspensas por conta da pandemia do novo coronavírus. Para essas escolas a carga horária de aulas será de 40% não presencial e 60% presencial.
As escolas que não tiveram greve em 2019 e iniciaram o ano letivo de 2020 em 10 de fevereiro (mas também tiveram as aulas suspensas em março por conta da pandemia) já concretizaram 14% do total de dias letivos e, portanto, a reposição das aulas será com 40% não presencial e 46% presencial, totalizando os 100% das 800 horas.
Aulas não presenciais
As aulas não presenciais serão organizadas em cinco etapas: produção do material escolar, com a organização semanal de estudos e planejamento do professor; disponibilização do material escolar; atendimento ao estudante; intervenção pedagógica; e registro em tempo real no final do semestre.
Essas aulas serão disponibilizadas na plataforma digital Aprendizagem Conectada (online) e com materiais apostilados impressos (off-line). A Seduc também vai continuar ofertando as videoaulas pela TV Assembleia.
“As aulas off-line preveem a entrega de apostilas para os alunos que não têm acesso à internet. Os professores também poderão trabalhar com os alunos via Whatsapp, fazendo estudo dirigido”, explica a secretária estadual de Educação, Marioneide Kliemaschewsk.
De acordo com a gestora, o plano estratégico foi construído com embasamento e amparo legal na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nos decretos dos Governos Federal e Estadual, no parecer do Conselho Nacional de Educação e na Resolução do Conselho Estadual de Educação.
Formação
A Seduc também vai ofertar formação aos profissionais da educação (efetivos e contratados) para qualificação sobre o uso de tecnologias que serão usadas nas aulas não presenciais, como o uso de recursos tecnológicos da Microsoft Teams. O processo de formação já está ocorrendo para 150 profissionais da rede estadual, sendo 130 professores dos Centros de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação (Cefapros) e 20 profissionais do órgão central da Seduc.
Esses 150 professores serão os multiplicadores para os demais profissionais da educação, que estão passando pela formação que vai até o dia 30 de julho.
Durante o mês agosto, a equipe da Seduc continuará produzindo os materiais da plataforma Aprendizagem Conectada, porém, a partir do mês de setembro os demais professores da rede estadual iniciarão esse trabalho, que será acompanhado e monitorado pela escola, através do coordenador pedagógico.
Aulas presenciais
O plano estratégico traz ainda o planejamento para o retorno das aulas presenciais. Porém, conforme destacou a secretária Marioneide Kliemaschewsk, ainda não há previsão para o retorno dessas aulas. Essa definição será validada entre o Estado e os municípios, por meio da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime-MT) e União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (Uncme-MT).
“O retorno das aulas presenciais para todos os estudantes vai depender do comportamento da pandemia no período”, destacou a secretária.
Ano perdido
Para a jornalista Eliana Bess, esse foi um ano perdido na educação da filha Dara, de 12 anos. A jovem cursa o 7° ano na Escola Estadual Pedro Gardes, em Várzea Grande e, apesar de a escola ter disponibilizado material off-line no início da pandemia, como apostilas para exercícios, Eliana diz que não viu vantagem já que o material não seria devolvido na escola e tampouco analisado por algum professor.
“Consegui imprimir apostilas para as quatro primeiras semanas de atividades e, ao entrar em contato com a assessoria pedagógica para saber onde levar o material feito pela filha, fui informada que o mesmo não seria devolvido na escola. Era apenas para ocupar a criança”, conta.
Segundo Eliana, a falta de respaldo da escola, especialmente em conteúdos mais difíceis, desmotivou a jovem que atualmente está sem desenvolver qualquer atividade escolar.
“Estou dando esse ano escolar como perdido e, quando retornar, minha filha vai cursar a mesma série. Não vejo como ela cursar o 8° ano se não aprendeu nada do 7°”, afirma.
Quanto à retomada das atividades anunciada pela Seduc, a jornalista se mostra um tanto quanto cética. “Como vai ser a interação com os alunos? Como será o acompanhamento com aqueles que não têm internet? Tem alunos muito carentes que não têm estrutura para estudar presencialmente, imagine de maneira não presencial”, diz.
Eliana é enfática em afirmar que não enviará a filha para a escola caso as aulas voltem a ser presenciais. “Meu marido é do grupo de risco. O medo nem é de pegar a doença, tenho parentes e vizinhos que foram infectados e se curaram. Meu receio é a falta de assistência, com hospitais superlotados e sem vaga em UTIs. Não posso arriscar”, conclui.
