Os kits contendo medicamentos para serem usados no tratamento contra a Covid-19, que serão adquiridos pelo Governo de Mato Grosso para serem entregues aos municípios não contarão nem com a Cloroquina e nem com a Hidroxicloroquina. Estarão disponíveis outras substâncias prescritas comumente quando há contaminação, como a Azitromicina, a ivermectina, a dexametasona e a dipirona. Conforme o governador Mauro Mendes (DEM), os produtos já foram comprados e o estado aguarda somente a entrega para posterior distribuição às prefeituras.
Consultado pelo Blog do Mauro, o médico Werley Peres considera a não inclusão de cloroquina ou hidroxicloroquina nos kits uma medida acertada, uma vez que a combinação deste medicamento com o antibiótico (azitromicina) pode trazer problemas cardíacos, como arritmia ou até mesmo parada.
"Tanto a azitromicina quanto a cloriquina provocam alargamento do intervalo QT do eletrocardiograma o que pode favorecer a uma arritmia. Há esse risco. A gente sabe que o kit é uma tentativa de cura, não é cura. Não há evidência clara de que funcione. É uma alternativa para algo que a gente não tem muita certeza. Antes usar isso do que mandar o paciente para casa. Mesmo sem evidências conclusas, in vitro a ivermectina teve bons resultados. Mas não há evidencias claras e robustas de que aja eficácia. É uma alternativa diante da pandemia, que é válida desde que o paciente não fique mais em risco", ponderou.
Peres não é contra o uso da cloroquina, mas defende que a medicação deve ser administrada somente quando a pessoa está internada, visto que nessa condição ela pode ser monitorada 24 horas. Assim, se houver alguma alteração cardíaca em função da combinação das medicações, poderá ter suporte de maneira rápida e eficaz. 7
"Para paciente internado acho válido, ambulatorial não vale a pena. Se eu não tenho certeza da boa evolução, prefiro não arriscar. Se não vou acompanhar rigorosamente o paciente para verificar a evolução cardiológica, porque não sabemos na população geral quem tem e quem não tem problemas cardiológicos. Então essa é a principal preocupação. Essa pessoas talvez não teriam problemas, mas terão se usarem esses medicamentos. As unidades de saúde pública não tem condições de fazer esse acompanhamento. Não posso ser leviano. Mal estamos conseguindo atender as pessoas nessa loucura".
Diferente do kit que será oferecido pelo estado, a prefeitura de Sorriso disponibiliza aqueles que estão contaminados 6 compromidos de hidroxicloroquina. Já o município de Chapada dos Guimarães, entrega aos pacientes kits como os que foram adquiridos pelo governo. No entanto, acrescentam ao combo vitamina C e zinco.
Conforme explica o profissional da saúde, de 100 pessoas que procuram o pronto atendimento infectadas pela Covid-19, 85% vão evoluir bem, independente do medicamento que for administrado. 15% vão precisar de ajuda médica, destes 5% precisarão de internação em uma Unidade de Terapia Intensiva e 1% vai evoluir para óbito. "Quando prescrevo o kit não sou leviano de dizer que a pessoa vai ficar boa ou curada. É preciso agir de forma responsável. Talvez a equipe médica que esteja assessorando o governo do estado e as prefeituras tenha vislumbrado isso. Vendo os relatos, evitaram a associação da cloroquina com a azitromicina", considerou o médico.
Apesar de as estatísticas apontarem que apenas 1% das pessoas que têm contato com o vírus morrem, no Brasil - e Mato Grosso segue a mesma regra - esse percentual atinge 5% dos infectados. Para Peres, esse descompasso nos dados locais ocorre porque houve uma demora para começar as testagens, o que pode trazer um falso diagnóstico do comportamento da doença. Como as testagens não eram feitas, não há como ter o dado real de quantos contaminados existiam no começo da pandemia e por isso o número de óbitos saltou.
Mato Grosso até o momento registrou 22.078 casos da Covid-19, sendo que 857 evoluíram para óbito. Foram curados, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, 8.974 pessoas. De acordo com Peres, o grande problema da pandemia é que as pessoas estão adoecendo todas de uma vez só, o que colapsou o sistema de saúde. Em função disso, o médico ingressou com um pedido junto ao Ministério Público Federal para que haja lockdown em Cuiabá e Várzea Grande.
Sintomas
Werley Peres pontua que a busca por uma unidade de saúde também precisa ser feita com cuidado pela população. Isso porque aquele que não estiver de fato contanimado pela Covid-19, pode contrair o vírus numa dessas buscas por atendimento médico. O médico ressalta que é muito importante procurar auxílio quando houver presença de febre e falta de ar. "Se há uma febre baixa e persistente, que não melhora com dipirona, muito cuidado. Nesses quadros é importante ir no pronto atendimento. Se não tem febre, mas tem uma tosse discreta e teve contato com alguém contaminado, vai para um pronto atendimento porque precisa ser avaliado. As pessoas da faixa de risco, aquelas que têm comorbidades, se tiver febre procure um médico".
Peres já foi secretário de saúde em Cuiabá e frisou que é muito importante deixar claro que ainda não existe a cura para a Covid-19 e que todo medicamento utilizado é uma tentativa de melhorar o quadro de quem está enfermo. "É uma tentativa, não deve ser vendido como cura senão a pessoa toma e acha que está bem. Existem pessoas que tomaram e evoluíram mal. Elas tinham fatores de risco. Eram idosos, diabéticos, hipertensos, obesos".
Sobrecarga emocional
Atuando na UPA Morada do Ouro e também na rede particular de saúde, Peres descreveu os dias atuais como "intensos e muito difíceis". "O desgaste psicológico e físico é muito grande. Enfermeiros e médicos estão com estafa psicológica, por medo da doença, por ver os colegas tombarem e morreram e por não conseguir leito para quem está mal. Chegam muitas pessoas ao mesmo tempo e não temos como resolver, não temos para onde mandar nem o que fazer. A sobrecarga não está só no sistema de saúde, mas na mente dos trabalhadores que estão como gigantes lutando contra um inimigo invisível. A população vulnerável entra no pronto atendimento buscando vida, tendo aquela equipe médica como a única tábua de salvação".
Ele lembra que sofrer essa pressão uma hora por dia, durante um plantão é uma coisa. No entanto, os profissionais da linha de frente enfrentam esse quadro 12 horas por dia, todos os plantões da semana. "Isso é algo que se não tiver uma estrutura muito forte, fica abalado".
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