NOTICIÁRIO Quinta-feira, 15 de Outubro de 2020, 11:52 - A | A

Quinta-feira, 15 de Outubro de 2020, 11h:52 - A | A

HOMENAGEM

Dia do Professor, a vocação de ensinar vira sacerdócio

Angélica Moraes

Há 193 anos, no dia 15 de outubro de 1827, o imperador Dom Pedro I instituía um decreto que criava o ensino elementar no Brasil. Surgia então o Dia do Professor. Em 1963 a data foi oficializada pelo decreto federal nº 52.682, aprovado pelo então presidente João Goulart. Em 2020 o Dia do Professor ganha um significado especial e a comemoração será à distância. A pandemia de Covid-19 separou fisicamente alunos e professores e tornou o ensino, que agora é online, ainda mais desafiador.

Há quem diga que ser professor é mais que uma profissão, é também uma missão e uma vocação. Para o professor Maurim Rodrigues, ser professor é, além de ensinar, ajudar o aluno e orientá-lo da melhor maneira, seja em sua vida pessoal ou profissional.

“Ao meu ver a gente trabalha para ensinar. O aluno deve ser educado em casa e cabe ao professor passar o conteúdo. Mas você acaba se deparando com determinadas atitudes do aluno na sala de aula que precisam ser corrigidas, não há outra saída. Não dá para permitir discriminações e preconceitos, por exemplo. Nestes casos acho importante interferir, senão você não está cumprindo o seu papel de educador”, observa.

Maurim é professor de história há 32 anos e começou na profissão porque precisava ajudar financeiramente em casa. A inspiração vem da infância quando ele convidava as crianças que moravam nos arredores da sua casa, na cidade de Dom Aquino, para brincar na escolinha montada por ele no barracão que existia nos fundos da residência.

“O que eu aprendia na escola eu ensinava para aquelas crianças. Montava feira de ciências e tudo. Acredito que essa foi uma das minhas inspirações”, revela.

Na opinião da professora Ana Elizabeth Werneck, todas as profissões se tornam uma missão e uma vocação quando se faz com a alma, com amor, quando se acredita naquilo que se faz porque, aí sim, se torna verdadeiro.

“Só assim que dá certo e você consegue fazer acontecer o que está se propondo. Minha motivação para continuar nessa área é acreditar naquilo que eu faço. Quando eu parar de acreditar que o que eu estou fazendo está dando certo e trazendo resultados, eu vou fazer outra coisa”, observa. “Às vezes a gente não consegue atingir a todos, mas sempre atinge alguém. O que me motiva é essa crença de o que eu faço é importante para alguém”, acrescenta Ana, professora de música há 19 anos.

Ela conta que não escolheu a profissão, mas foi escolhida por ela. Formada em psicologia e piano, o desejo de ser musicoterapeuta a levou para a sala de aula.

“Ser professor é uma parceria, uma relação que equivale. O professor e o aluno são dois saberes se correlacionando. É uma troca e é assim que a gente cresce”, diz.

A presença dos alunos em sala também é a motivação de Maurim. “O que me motiva a dar aula e continuar ensinando, neste país que não valoriza a educação, é o amor pela profissão. Às vezes a gente fica cansado, desanimado, mas quando entra em sala vem uma energia boa. O contato com os alunos transforma, renova. O aluno é a grande inspiração do professor”, salienta.

E o professor também pode ser a grande inspiração para o aluno. Ana Elizabeth conta que ainda se lembra de todos os professores de piano que teve em sua formação, dos detalhes das mãos, da posição dos dedos nas teclas do instrumento.

“Uma música que eu canto para uma criança de 2 anos, de alguma forma ela vai ficar, mesmo que a gente não perceba isso de maneira concreta. Por isso me preocupo tanto com aquilo que escolho para os meus alunos”.

Para Maurim, o legado deixado pelos professores que teve em sua trajetória acadêmica influenciaram na maneira como ele dá aulas hoje em dia.

“Tive alguns professores que foram muito marcantes na minha vida e me inspiraram a ser quem eu sou em sala de aula, bem como a maneira como eu ensino. Tive uma professora de práticas agrícolas que nos levava para aulas de campo com muita frequência. Faço o mesmo com meus alunos, levo a museus, galerias de arte, exposições para que vivenciem a teoria na prática. Isso é muito importante e motivador”, revela.

Maurim, por sua vez, também inspirou alguns alunos de maneira especial. Entre eles Odair de Moraes. Jornalista por formação, Odair é poeta, escritor com dois livros publicados e professor da rede pública de ensino.

“Fui aluno do professor Maurim Rodrigues em 2000, no terceiro ano do Ensino Médio. Pouco tempo, mas o necessário para que ele me influenciasse definitivamente. Cursei Letras alguns anos depois e, assim, também me tornei professor. Me lembro que, quando fui seu aluno, ele já possuía dois livros publicados. O conhecidíssimo Mato Grosso e sua história, escrito em parceria com a professora Else Cavalcante e Dilemas, um livro de poesias ilustrado por Adir Sodré e Gervane de Paula”, conta. “Ver o professor declamando poemas autorais foi um dos acontecimentos mais emocionantes que pude experimentar em uma sala de aula. Me orgulho muito de ter sido seu aluno. Suas aulas eram as mais divertidas do colégio. Ele era espetacular, um verdadeiro showman. E, de todos, o mais sensível e humano. Se meus alunos um dia se lembrarem de mim da mesma forma como eu me recordo dele, isto pra mim será o motivo maior de satisfação: a glória, a consagração”, completa.   

Remuneração

Relatório divulgado em setembro deste ano pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que a remuneração dos professores no Brasil é bem mais baixa do que a média dos países membros da organização.

O estudo envolveu 38 países membros e outros oito convidados, entre eles o Brasil. A comparação é calculada em dólares pela paridade do poder de compra. Um docente do ensino médio no Brasil ganha, por ano, o equivalente a US$ 25.966. A média praticada pelos membros da OCDE é de US$ 49.778.



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