NOTICIÁRIO Quarta-feira, 12 de Agosto de 2020, 09:48 - A | A

Quarta-feira, 12 de Agosto de 2020, 09h:48 - A | A

CAIU NA ROTINA

Depois de cinco meses de pandemia, onda de solidariedade "esfria"

O Monitor das Doações Covid-19 atingiu, em 19 de julho, a marca dos R$ 6 bilhões e desde então entrou no chamado platô, ou seja, chegou a uma estabilidade com pequenas oscilações nesse valor ao longo dos últimos dias. A ferramenta da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) foi lançada em 31 de março, alguns dias após a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretar a pandemia no mundo. Começou com R$ 450 milhões e 100 mil doadores hoje está em R$ 6.039 bilhões com 478.235 doadores.

A ferramenta lista todas as doações que foram publicamente anunciadas. A maior parte das doações é realizada por empresas, cerca de 85%. Em segundo lugar estão as campanhas de financiamento coletivo (7%). Do total de doações, 77% são direcionadas à área da saúde, 18% para assistência social e 5% para educação.

Do montante doado, 62% são em dinheiro. O sistema financeiro encabeça a lista de doadores, mas um olhar mais atento irá encontrar nomes conhecidos como Gusttavo Lima, Neymar, Alexandre Birman, Luciano Huck, Manu Gavassi, Diego Tardelli, Galvão Bueno e Zezé di Camargo.

A pandemia de Covid-19 despertou sentimentos diversos no ser humano, entre eles a solidariedade. Trabalho realizado por instituições, projetos sociais ou indivíduos que se uniram para ajudar o próximo foram e ainda são essenciais para ajudar milhões de pessoas a sobreviverem. Gente que ficou sem emprego e renda ou que está mais vulnerável e exposto à infecção pelo novo coronavírus. Em suma, brasileiros que sofrem com a falta de apoio do poder público.

No ranking global de solidariedade World Giving Index o Brasil ocupa o 74° lugar em uma lista de 126 países, segundo dados de 2019. Essa onda solidária iniciada na pandemia pode ajudar o país a subir alguns degraus nesse ranking. A estabilidade, no entanto, já começa a preocupar os estudiosos. Para eles, é preciso que a cultura de doação embalada pela pandemia se fortaleça no país.

“Vivenciamos um estágio emergencial onde não estávamos preparados para ao que íamos enfrentar. Natural que se crie uma roda de solidariedade e com grandes divulgações; as pessoas são contagiadas por esse sentimento, mais ou menos como uma histeria coletiva. Todo mundo começa a querer ajudar e isso aumenta a capacidade de empatia do ser humano”, explica a psicóloga Gina Coelho.

Segundo ela, o excesso de campanhas também fez com que as pessoas se lembrassem, a todo momento, que havia outras necessitadas de ajuda.

“Com o tempo a gente vai se adaptando, nossas emoções vão se modificando, os padrões de comportamento, sentimento e pensamento mudam porque o ser humano é adaptável, vai se acomodando à rotina”, observa. Como consequência há a diminuição no número de pedidos e doações.

A empresária Agda Catulé faz parte do projeto AMARmita que distribui, um vez por semana, alimentação, roupas e sapatos a moradores de rua que vivem na área central e outras regiões de Cuiabá, como a rodoviária, por exemplo. São entre 70 e 110 pessoas atendidas.

“Por causa da pandemia, com os restaurantes e bares fechados, os moradores de rua ficaram em uma situação mais desfavorável e, por isso, decidimos abraçar a ideia de alimentá-los”, conta Agda.

As doações, feitas por pessoas e empresas, são tanto em alimentos quanto em dinheiro, mas variam bastante a cada edição. Quando falta, os voluntários – que cozinham, embalam e distribuem os alimentos - costumam tiram do próprio bolso.

“As contribuições diminuíram, mas não chegou a faltar. O fato de as doações variarem bastante nos levou a limitar o número de marmitas a 110”, revela. “As pessoas precisam mudar o conceito de doação. Se estão doando, então doem produtos de qualidade. Muitas vezes doam produtos vencidos, estragados ou de marcas muito ruins o que acaba dificultando o cozimento”.

Para Agda existe muita gente comprometida. “Mas ainda precisamos tocar no coração das pessoas. Quem é generoso é em qualquer hora do dia e na vida, independe de pandemia. Se todos se colocarem no lugar do próximo, a vida fica mais leve”, conclui.

Saber pedir

“As pessoas não doam porque nós não pedimos. E, quando pedimos, nós não sabemos pedir”, diz Custódio Pereira, presidente do Fórum Nacional das Instituições Filantrópicas (Fonif) em entrevista ao Observatório do Terceiro Setor. Ele aponta que as instituições, como um todo, têm dificuldade em se comunicar sobre as doações e campanhas que realizam, o que acaba impedindo que o número de doações aumente e se consolide.

Na opinião da psicóloga Gina Coelho há a necessidade dessa roda viva de solidariedade surgida com a pandemia criar novas estratégias para que as ações se mantenham porque, apesar da estagnação no número de doações e doadores, o de necessitados não diminuiu.

“É preciso seguir estimulando a vontade e a consciência de doar. Se as informações param de circular, as pessoas têm a sensação de que os outros não estão mais necessitando tanto. Por isso as campanhas e a conscientização continuam sendo essenciais”, alertou.

Gina aponta ainda que a pandemia possibilitou essa conscientização coletiva, mas a permanência da atitude solidária é uma escolha individual.

“Quando há uma motivação interna a pessoa que já doava antes vai continuar a doar, mesmo depois da pandemia. Mas haverá aqueles que acham que ser solidário está na moda e, passada a pandemia, suspenderão as doações porque não criaram um propósito para tal. É preciso atingir um estágio de consciência, de necessidade contínua de seguir doando, seja bem material, dinheiro ou tempo”, finaliza.



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