Com galerias de arte, museus e outros espaços expositivos de portas fechadas por conta da pandemia de Covid-19 seria de imaginar que os artistas plásticos reduzissem o ritmo de trabalho. Não é o que tem acontecido com muito deles, em especial alguns nomes das artes mato-grossenses que têm aproveitado esse período para expressar, por meio das telas e outras formas do fazer artístico, seus pensamentos e sentimentos com a situação atual enfrentada pela humanidade.
“Continuo produzindo, não no mesmo ritmo de antes da pandemia”, revela Gervane de Paula. “O importante é não parar totalmente porque uma obra puxa outra. Se você parar por um longo período, é possível perder o ritmo e, talvez, não consiga retomar mais tarde” completa o artista que transpôs para suas pinturas mais atuais elementos da pandemia e suas complicações. “Acho isso inevitável porque a arte segue o curso da vida”.
O artista plástico Claudyo Casares cancelou uma oficina de mosaico agendada para abril tão logo houve o anúncio da quarentena e aproveitou o momento de isolamento social para organizar o espaço de trabalho. “Isso deu um novo estímulo porque o artista faz um desenho e se esquece dele. Algum tempo depois encontra, acha interessante a proposta e tudo se renova”, conta.
Novas inspirações trouxeram, como consequência, mais produção. Ainda assim, para Claudyo, esse momento pede mais reflexão a respeito do presente e futuro. “O cenário artístico atual, independente da pandemia, é muito incerto. Infelizmente a situação econômica não deixa boas chances para as artes. Eu sigo pintando porque a arte é um dos meus maiores prazeres”, completa.
Portas fechadas
Assim como os artistas, os espaços expositivos também tiveram que se adaptar às determinações das autoridades para que fechassem as portas ao público, o que não significa que estejam sem atividades. O universo online foi a alternativa encontrada pelas instituições para se manterem em funcionamento.
O Museu de Arte Sacra de Mato Grosso, por exemplo, possui uma agenda semanal de atividades compartilhadas com o público por meio das mídias sociais. A programação inclui quadros fixos como o Você Sabia?, com informações sobre o museu e o acervo exibidas no Facebook, Instagram e YouTube. Ou ainda lives com temas que abordem o patrimônio cultural, educação e arte, entre outros, apresentadas no Instagram.
“Toda essa programação semanal é criativa e comunica com as múltiplas linguagens que uma instituição museológica trabalha”, explica Viviene Lozi, diretora do Museu.
Entre as novidades anunciadas para breve estão uma nova exposição, o curso Educação patrimonial e novas tecnologias e a estreia na plataforma do Tik Tok com vídeos engraçados e educativos sobre o Museu de Arte Sacra. Além disso, será possível conhecer as instalações e peças expostas no museu por meio de um passeio virtual.
Vale ressaltar que, apesar de todo este conteúdo online, a conservação, higienização e limpeza do espaço e do acervo são mantidas com todas as recomendações das autoridades sanitárias.
“Acredito que o pessoal que está consumindo esse conteúdo virtual tem o interesse em visitar o espaço presencialmente quando a pandemia acabar e o museu abrir as portas ao público”, diz Viviene.
Também em Cuiabá, o Museu de História Natural Casa Dom Aquino está com o atendimento ao público suspenso por conta da pandemia, mas tem oferecido conteúdo diversificado nas redes sociais como cursos e visitas virtuais.
Tour virtual
Para conhecer o Museu da Memória Republicana, instalado no Convento das Mercês, não é necessário viajar ao Maranhão. Considerado um dos Sete Tesouros de São Luís, está com o prédio fechado por causa da pandemia do novo coronavírus, mas abriu uma janela. No computador ou no celular é possível fazer uma visita virtual pelo museu. O passeio está disponível no site eravirtual.org.
Um passeio também pode ser feito por quadros dos pintores brasileiros Di Cavalcanti, Anita Malfatti e Cândido Portinari e de grandes nomes mundiais como Rafael, Mantegna, Botticceli, Monet, Picasso, Van Gogh. Eles estão expostos no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp).
O maior museu a céu aberto do mundo, o Inhotim, fica em Brumadinho, Minas Gerais. Suas instalações não foram atingidas pela lama da barragem do Córrego do Feijão. No tour virtual do Inhotim é possível conhecer o Jardim Botânico e as várias obras de arte e esculturas expostas ao ar livre.
O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) tem em seu acervo online dezenas de museus localizados em todas as regiões brasileiras.
No site Metropolitan Museu de Arte de Nova York (MET) há diversos vídeos, textos e fotos das obras em exposição. Tem também um passeio de 360º pelo prédio.
A visita online ao Museu do Louvre, em Paris, possibilita ver em detalhes uma das obras mais famosas do mundo, a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. Quem fizer o tour virtual pode ver o quadro e se surpreender com o tamanho da obra.
Muitos outros museus podem ser vistos, como o Reina Sofia, em Madri, na Espanha, com o famoso Guernica, de Picasso, e várias obras do espanhol Salvador Dali.
Na Argentina, o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba) também tem visita virtual. É lá que está o Abapuru, da brasileira Tarsila do Amaral, além de obras de Cândido Portinari e do casal mexicano Frida Kahlo e Diego Rivera. (Com Agência Brasil)
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