#PAPO COM ELA Sexta-feira, 30 de Outubro de 2020, 08:28 - A | A

Sexta-feira, 30 de Outubro de 2020, 08h:28 - A | A

NUTRIÇÃO ADEQUADA

Famílias ainda não conseguem acessar alimento de qualidade

Angélica Moraes

Criado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) para alertar sobre a necessidade de alimentação em qualidade e quantidade para toda a população, o Dia Mundial da Alimentação, comemorado em 16 de outubro, é também uma oportunidade para analisar como estão os hábitos alimentares dos brasileiros.

Na opinião da professora da faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Bartira Gorgulho, há o entendimento sobre a disponibilidade de alimento para toda a população, mas o que ainda se questiona é o acesso por parte das famílias.

“Quando se fala em acesso aos alimentos é preciso levar em consideração que itens são produzidos e onde eles chegam. Se pensarmos que a maioria dos itens produzidos em Mato Grosso, como soja e milho, não ficam para consumo mas são exportados, então não há como dizer que são acessíveis”, informa. “Há a agricultura familiar como uma opção, mas o consumo do que eles oferecem ainda é baixo”.

Pesquisas como o Inquérito Nacional de Alimentação, que investiga os hábitos alimentares dos brasileiros, revelam que a população aumenta a ingestão de alimentos pouco saudáveis nos finais de semana e que o consumo do arroz e feijão continua caindo, bem como a ingestão de frutas, verduras e legumes.

“O consumo de alimentos ultraprocessados vem subindo em todas as classes, com destaque para alimentos como biscoito e margarina que crescem mais nas classes mais baixas”, observou a nutricionista que aponta a pandemia de Covid-19 como uma das “incentivadoras” de uma ingestão maior de alimentos menos saudáveis.

“A Covid-19 trouxe aquele anseio inicial pelo estoque de alimentos, bem como restringiu a venda de frutas, verduras e legumes em feiras, por exemplo, que foram fechadas”.

A ingestão de alimentos com pouco valor nutritivo resulta no que Bartira chama de dupla carga, que é o aumento do peso corporal e a falta de nutrientes.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a obesidade é um dos mais graves problemas de saúde. Em 2025, a estimativa é de que 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estejam acima do peso, sendo 700 milhões de indivíduos com obesidade, isto é, com um índice de massa corporal (IMC) acima de 30. No Brasil, essa doença crônica aumentou 67,8% nos últimos 13 anos, saindo de 11,8% em 2006 para 19,8% em 2018.

A obesidade é a porta de entrada para várias doenças como a hipertensão e diabetes, duas das principais comorbidades que tornam a Covid-19 ainda mais perigosa.

Segundo Bartira, não é correto responsabilizar apenas os indivíduos, mas há todo um ambiente que facilita o ganho de peso. “É muito mais fácil encontrar alimentos pouco saudáveis porque são opções mais baratas. Há uma propaganda massiva desse tipo de alimento e a dificuldade de entender rótulos para fazer escolhas mais corretas”, disse. “O conjunto de fatores que vão dos hábitos individuais, escolhas coletivas e o ambiente alimentar onde estamos inseridos muitas vezes favorece o acesso maior a esse tipo de alimento e não apenas a questão financeira e a disponibilidade”.

Mudar hábitos alimentares e optar por ingredientes mais saudáveis é um processo, ensina a nutricionista. Para ela, a alimentação não começa no momento em que a pessoa se senta à mesa para se alimentar e sim antes, com um planejamento, preparo e organização que poderia envolver toda a família.

“Quando a gente volta a cozinhar e percebe que pode utilizar um ingrediente melhor se dá conta que consegue controlar o que coloca na alimentação como óleo, sal e açúcar, por exemplo. Uma alimentação saudável inclui frutas, verduras, legumes, arroz com feijão, carne. Precisamos comer de tudo um pouco porque cada alimento vai trazer um nutriente diferente”.

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Mudar hábitos alimentares e acrescentar alimentos mais nutritivos foi a escolha de Breno Zamar. Aos 24 anos ele pesava 137 quilos. Um ano depois conseguiu eliminar 75 quilos.

A necessidade de mudança veio quando Breno entrou na faculdade. Vítima de bullying quando criança e adolescente, ele sentiu que algo precisava mudar.

“Cresci em uma família que não tinha hábito de comer verduras e legumes, tinha muito doce e refrigerante no cardápio. Perdi meu pai, que tinha problemas cardíacos e diabetes e vi minha mãe indo para o mesmo caminho. ‘Virei a chave’ e comecei a ter mais consciência com relação à alimentação”, revela.

Breno não eliminou todos os alimentos processados de uma única vez, mas foi substituindo aos poucos e incluindo opções mais saudáveis no cardápio. Além disso, começou a praticar atividade física.

“Muitas coisas eu dizia que não gostava sem ter experimentado, como salada. Grande desafio foi incluir as verduras nos hábitos alimentares. Tinha preconceito com dieta, achava caro mas percebi que é possível fazer adaptações e cozinhar em casa. É preciso ter coragem de mudar, de sair da zona de conforto”, conta.

Entre os resultados positivos ele aponta a recuperação da autoestima e a ausência de dores que sentia nas costas e panturrilha, além do cansaço.

“Perdemos peso, mas ganhamos vida porque é um sentimento tão bom de superação, a sensação que sou capaz de muita coisa, só depende de mim”.

Seis anos depois dessa mudança, ele revela que o processo de emagrecimento não tem fim, é uma constante. Por conta da pandemia de Covid-19 ele engordou oito quilos, mas diz que já está no processo de eliminação desse peso extra.

“Não me privo de alguns prazeres como um lanche, uma bebida alcóolica, mas com moderação. Manter rotina saudável sem extremos é a opção mais correta que fiz. Penso que esse estilo de vida pede adaptações e o estabelecimento de metas alcançáveis e realistas para não resultar em frustrações e no efeito sanfona”.

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