#PAPO COM ELA Quinta-feira, 27 de Agosto de 2020, 15:53 - A | A

Quinta-feira, 27 de Agosto de 2020, 15h:53 - A | A

ESCOLA ULTRAPASSADA

Ensino precisará ser reinventado no pós pandemia, avalia pesquisador

A decretação da pandemia de Covid-19 em março deste ano deixou cerca de 1.5 bilhões de estudantes fora da escola em mais de 160 países, segundo relatório do Banco Mundial. Para a grande maioria dos países afetados, evitar a interrupção do aprendizado na medida do possível foi visto como prioridade. Nesse sentido, várias soluções foram buscadas, entre elas a transferência das aulas presenciais para o universo online.

Essa nova realidade caiu como uma bomba no colo de pais e professores que tiveram que se adaptar em tempo recorde. Passados mais de cinco meses desde que a pandemia foi decretada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), já existe uma certa acomodação de pais, alunos e professores com relação a esse cenário de ensino virtual.

“Os primeiros meses não foram fáceis até por uma falta de preparo e orientação em nível global. Ninguém havia vivenciado uma pandemia antes. O começo não foi fácil, tirou todo mundo da zona de conforto, mas hoje acredito que já chegamos a uma adaptação ao ensino remoto”, observa Marcia Amorim, psicopedagoga especialista em educação infantil e letramento e coaching educacional.

“Aprender a mexer com ferramentas, gravar vídeos, buscar material para complementar o conteúdo foi o primeiro impacto, que acredito já ter sido absorvido. Estamos agora em um momento de estabilidade, mas ainda assim é um momento de estresse”.

As fontes de angústia e apreensão recaem agora sobre as discussões a respeito de possível retorno das atividades presenciais em meio a um ainda alto número de mortos pelo novo coronavírus em todo o país. A indefinição do calendário preocupa pais, alunos e professores.

“É preciso ter calma. Essa é uma fase e vai passar. Devemos entender que é um momento e devemos fazer o melhor para os nossos filhos, ao menos tentar. O professor quer que dê certo e, quanto mais a comunicação for ampliada, mais contribuições haverá para enfrentar o momento da melhor maneira”, enfatiza Márcia.

A psicopedagoga ressalta ainda outros impactos gerados na infância durante o isolamento social como ansiedade, interrupções com relação ao tempo de sono, alteração dos hábitos alimentares e sedentarismo, além de depressão e obesidade.

“Para que a criança aprenda é necessário um espaço onde ela possa estar organizada emocionalmente. O acesso excessivo às tecnologias, seja nos estudos ou para diversão, trouxe uma agitação mental e a desorganização da rotina que impactam no aprendizado”, frisa a profissional.

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Ela ressalta ainda que não apenas o ensino, mas também o trabalho remoto (home office) foi percebido pelos profissionais como uma exposição maior ao tempo de trabalho atingindo também os professores, especialmente os da educação básica que não tinham a perspectiva do ensino remoto nas suas práticas de sala de aula.

“Vamos ter mudanças em todas as áreas, inclusive na visão da família com relação à posição da escola dentro do contexto familiar. Muitos pais abraçaram com vontade a possibilidade que tinham de contribuir com a educação dos filhos. Eles dizem que não é fácil e tranquilo, mas vejo que existe uma inclinação para poder entregar o melhor ao filho”, observa Márcia.

O futuro

Ainda não há como prever como será a educação pós-pandemia. Na opinião de Silas Borges Monteiro, professor e pesquisador do Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), nesse momento as universidades têm se mobilizado no sentido de organizar suas pesquisas para pensar em cenários possíveis.

“No que diz respeito à educação, não há como fazer projeções e prognósticos. O que temos ouvido são ensaios, esforços de compreensão deste momento para que possamos pensar no futuro”, diz.

Uma das constatações do especialista é com relação às desigualdades sociais escancaradas com a pandemia e que abrangem, não apenas dispositivos de conexão, mas condições de acesso a dados e internet que inexistem em comunidades mais carentes.

“Ainda há parte significativa da população que não tem acesso à energia elétrica e saneamento, o que dizer à banda de internet para comunicação. É uma desigualdade de acesso aos bens públicos que não deveria existir, mas que ficou às claras com a pandemia”, observou.

Na opinião do professor a solução desse problema não se dará a curto prazo. Os governos deveriam começar a fazer o dever de casa com a elaboração de um plano estratégico de atendimento em infraestrutura e saneamento básico. Dentro desse novo cenário pós-Covid-19, há ainda que se pensar em um outro projeto de escola.

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“Não sei se a ela compete hoje o que competia antes, colocar na mesma sala várias pessoas ouvindo uma mesma pessoa”, lembra Silas Monteiro. “Nós nos sentimos muito confortáveis com esse modo como a educação é oferecida, mas eu me pergunto se isso vai se sustentar. A ação docente requer um entorno mais denso do que alguém que fique falando, dando informações para as pessoas e é isso o que está em evidência nesse momento. Se coubesse ao professor apenas dizer coisas, um YouTube resolveria, mas não é disso que se trata”, salienta.

Segundo ele, o professor tem a competência e a capacidade de mobilizar pessoas em direção ao conhecimento. A presença do novo coronavírus muda a atuação do docente, criando uma boa oportunidade de repensar sobre essa docência.

“Nós não sabemos exatamente como vamos viver daqui para a frente. Virá algo novo, a sociedade será outra, as relações serão outras. Nenhuma pandemia deixou depois de si as mesmas relações entre as pessoas”, lembra. “O grande desafio da educação hoje é inventar o novo e nada tem sido feito sobre isso. Precisamos reinventar o futuro”.



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