CONTEMPORANEIDADES Quinta-feira, 04 de Março de 2021, 15:15 - A | A

Quinta-feira, 04 de Março de 2021, 15h:15 - A | A

AMANDA NEGRÃO

Um ano de pandemia no Brasil, e você como está se sentindo?

Amanda Negrão

34 anos, engenheira civil e professora de homeoffice na pandemia, com ótima memória para gravar informações inúteis e letras de música. Vivo à base café, vinho e crises existenciais - no tempo livre, zero a Netflix, passo raiva com o Brasil e escrevo. @amanda_negrao

UM ANO ATRÁS

Em março de 2020 entramos em quarentena, cidades se esvaziaram, aulas foram suspensas e o medo do desconhecido pairava no ar.

Não sabíamos o que nos esperava, o receio de que o que estava ocorrendo na Itália se repetisse no Brasil era aterrorizante, verdadeiras cenas de guerra.

Na ilusão, muitos acreditaram que talvez tudo se resolveria com um isolamento de 15 dias, porém foi necessário muito mais do que isso, mas como parar um País? Como para o mundo e a vida?

Nos noticiários o assunto era um só, a COVID-19. Até mesmo a Globo suspendeu as novelas, o futebol parou.

Como se proteger? Qual o risco? Como se preparar? Quais os sintomas? Teremos quais sequelas?

Muitas perguntas e poucas respostas...

A PANDEMIA

As recomendações eram e continuam as mesmas, sair somente para o essencial, quem puder trabalhar de casa trabalhe, respeitar o distanciamento social, não abraçar, não fazer festas, usar máscaras corretamente, higienize as mãos e se tiver sintomas procure um médico.

A quarentena durou muito mais que 40 dias e com o passar do tempo os mais privilegiados conseguiram enxergar algo bom em meio ao caos, aqueles que tiveram a opção e o privilégio de ficar em casa, viram a situação como umas férias forçadas, crianças em casa, pais passando mais tempo com os filhos, mas foram cansando. 

As coisas ‘’melhoraram’’ e a vida teve um novo suspiro, uma falsa sensação de segurança. Protocolos foram criados para que serviços pudessem retornar, afinal, a vida e a economia não podiam parar.

O comércio voltou, os cultos religiosos, os bares e restaurantes, as academias, os salões de beleza, tudo cumprindo ‘’rígidos protocolos de biossegurança’’ que muitas vezes consistem num pote de álcool em gel e uma aferição de temperatura no pulso.

Fim de ano, férias, encontro para o Natal, Happy hour para ver os amigos, praia, passeios, tudo isso muitas vezes em prol da ‘’saúde mental’’.

A desculpa de que pelo bem da minha saúde mental eu preciso encontrar pessoas e viver a vida teve seu preço.

Um preço tão alto que chegamos nesse marco de um ano, em uma situação muito pior que no início do ano passado, mas que por algum motivo agora, parece não assustar. Estaremos cegos ou anestesiados?

HOJE

Um ano do primeiro caso confirmado da Covid-19 no Brasil e temos mais de 250 mil mortos, a média móvel diária de casos e óbitos é maior que no pico do ano passado, mas tudo segue ‘’normal’’.

Os bares estão cheios, os restaurantes também, existem shows, festas de casamentos, cultos lotados, praias cheias ... Nada como o verão no Brasil, que pena que proibiram o carnaval!

Entre os de nós que seguimos a maioria das orientações, que praticamos o isolamento ao máximo permitido, saindo somente para o essencial, o sentimento é de impotência.

Aqueles que estão há um ano saindo somente para trabalhar ou fazendo home office, as crianças que seguem sem aulas, aqueles que deixaram de ver amigos, abraçar os pais chegam a esse marco completamente exaustos.

Deixamos de chorar pelos 900 mortos diários na Itália, depois que mais de mil mortos por dia virou algo comum no Brasil, deixamos de brigar com aqueles que insistem em não usar máscaras, e de criticar os que optam por não respeitar o distanciamento social indo a festas, pois de nada adianta apontar os erros se só temos controle sobre as nossas escolhas.

Nos fechamos mais ainda, não podemos confiar que os outros estão se cuidando, então só nos resta cuidar de nós mesmos é a filosofia que passamos a aplicar.

‘’Crianças não podem ir à escola, pois os adultos precisam de lazer nos diz muito como sociedade’’.

Para aqueles que optam por respeitar as orientações o isolamento é muito mais que físico, ele é mental e solitário.

Nos afastamos daqueles que parecem não levar tudo tão a sério, daqueles que optam por colocarem as suas vidas, e pior, a dos outros em risco.

Paramos de seguir amigos e familiares nas redes sociais, não temos mais energia para brigar com a amiga que estava no happy hour, com a outra que insiste em ir à academia lotada e sem o mínimo pudor compartilha suas fotos sem máscaras nas aglomerações. Passamos a responder uma boa viagem para quem nos conta que vai viajar, afinal, do que vai adiantar o nosso sermão?

Já não temos mais saúde mental para discutir com o tio que insiste em indicar ivermectina e cloroquina no grupo do whatsapp da família, ou com o outro que diz que máscaras fazem mal.

Não temos mais energia, estamos deprimidos e sem perspectiva de futuro. 

A vacina já existe, mas não conseguimos nem manter o otimismo pois no Brasil, um país de 220 milhões de habitantes, a mesma parece estar chegando a conta gotas.

Não sei como sairemos disso como sociedade. Um dia acreditei que mais empáticos, hoje penso que mais egoístas. Porém, seguimos, com a esperança de que não precise de mais um ano para tudo isso passar.

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