Crescemos aprendendo a conceituar o que está presente em nosso cotidiano. São conceitos, muitas vezes, carregados de imposições, preconceitos, segregações, controles, limitações. São discursos problemáticos que recebemos, absorvemos, repassamos e que precisam ser questionados.
E mulher é conceito que está nesse caminho. Precisamos desconstruir, questionar e refutar a ideia de que exista uma única explicação para o que é ser esse ser.
Assim, quando entendemos que os discursos presentes em uma sociedade não são processos neutros, livres, imparciais e que contribuem para a existência de relações de poder sobre o outro, chegamos a contextos históricos, sociais e culturais que, ao falar sobre as mulheres, vão apresentar representações pautadas no controle, na seleção, exclusão e dominação.
E é em meio a essas significações históricas, culturais e sociais, produzidas e reforçadas por aqueles que tinham (e têm) o poder de dizer, que ainda ouvimos, lemos e vemos declarações sobre o que as mulheres podem fazer ou não, em quais ambientes elas devem estar, o que podem ou não dizer, como devem ou não se relacionar.
Durante o século XIX essas definições sobre a divisão de tarefas e de segregação sexual da sociedade foram intensificadas. E a imprensa estava lá contribuindo para a disseminação negativada e superficial sobre a mulher. O século seguinte segue reforçando comparações e a imposição de que as mulheres serão aquelas sempre vinculadas ao lar, filhos e marido. A beleza estereotipada continua sendo pauta, assim como também surgem os discursos da mulher livre e esperta, mas que será aquela que não irá desagradar o companheiro.
Nessa breve descrição de 200 anos de representação sobre as mulheres, é notável o quanto a imprensa contribuiu para a propagação de identidades marcadas por padrões discriminatórios, predeterminados, de exclusão e que, em pleno século XXI, seguem sendo reforçados pela mídia e nas redes sociais.
Porém, ao mesmo tempo em que é doloroso perceber o quanto as mulheres foram representadas a partir de marcações pautadas pela diferença, opressão, seleção e controle, é importante compreender o contexto social, cultural e histórico para continuar questionando, desconstruindo conceitos, resistindo e existindo.
Não é um processo simples, não é um movimento individual e nem uma luta breve. É preciso se questionar e questionar sempre o que nos é repassado. É também um processo de reconhecimento, pois vozes de resistência sempre estiveram presentes entre nós. E por isso é preciso dar continuidade a esse caminho pela liberdade, escolhas e viveres.
Aos que escrevem, editam, publicam, compartilham, é importante lembrar que a liberdade que nos é dada precisa estar ao lado do respeito com o outro, pois ao intermediarmos esse processo de divulgação e recebimento de informações, precisamos contribuir para a ampliação de espaços responsáveis, que prezam por dar voz a outras pessoas, ouvir outros discursos, desconstruir ideias únicas.
Em uma sociedade racista, só fazer stories não é ser antirracista
Assim, que sigamos nesse processo diário de reconstrução.