Hoje me entrego à certeza de que sozinha ando bem, mas com vocês, ando muito melhor!
Cada vez que uma mulher consegue falar, de sua boca sai um rio de histórias - sabedoria milenar que estava adormecida, calada ou angustiada na vontade de cantar, contar, gritar!
No momento que uma mulher grita, o som ecoa longe... desperta as velhas e as novas mulheres que moram dentro de nós, desperta as dores que estão em nossa pele, em nosso sangue, e então nos levantamos mais fortes para talvez ter a coragem de gritar junto.
Cada vez que alguém deixa esse mundo por se identificar ou ser identificada como mulher, algo muito profundo se revira em nós. Uma memória vívida, e ao mesmo tempo antiga de tantas vidas que já se foram assim, exatamente assim.
Mas é preciso mudar o que acabei de dizer, minhas caras: ela não foi por ser mulher, ser mulher é o que mantém ela viva em todas nós. Ser mulher é o que nos conecta e nos sustenta para seguirmos modificando essas estruturas ainda tão violentas, arcaicas e crueis.
Não conheci Magó, e nem precisava. Não conheci Luana, Gerciane, Paula, Mateusa, nem Marielle. Não conheci tantas, tantas, e nem precisava. Porque elas são o que eu sou, elas vivem em mim antes mesmo de eu me dar conta. Nos reconhecemos uma na outra sempre, não importa o quê.
Uma grande mulher de nome Clarissa um dia escreveu no livro “A ciranda das mulheres sábias”: Quando uma mulher vive de verdade, todas as outras também vivem.
Então eu escolho viver a melhor vida que eu puder, para que elas também possam viver através de mim. Eu vou permanecer viva e escrevo para que elas permaneçam vivas.
Nós respiramos, falamos, criamos, brincamos, gozamos, lutamos, parimos, amamentamos, rimos...para que todas permaneçam vivas.
Agora, escrevo aqui neste site, que ironicamente em contraponto se chama Blog do Mauro, mas que há algum tempo vem se tornando o blog de outras vozes também, à convite de uma mulher com nome de deusa Ariadne, que me inspira enquanto pessoa, professora e mestra das palavras. Aceito esse convite com carinho e agradeço a oportunidade de partilhar as palavras que precisam sair por minhas mãos, que querem ser lidas por leitoras(es) atentas (os) como vocês. Que desejam viajar para além das redes sociais e quem sabe brotar em algum solo real.
Escrevo essas palavras e as compartilho aqui para que existir mulher nesse mundo seja cada dia menos um medo, menos um fardo, menos uma agressão. Que existir mulher nesse mundo seja cada dia mais: simplesmente ser. Que nossos encontros, mulheres e pessoas todas, nos alimentem de vida, nos transformem em gente, nos fortaleçam em coragem, em amor. A transformar tudo que ainda precisa ser transformado nessa terra fértil.
Hoje me entrego à certeza de que nesse ato de coragem nossa força triplica. A memória é o que nos dá força e sabedoria para enfrentar tudo o que ainda está acontecendo nessa organização social que criamos e que vai mudar. Contemos umas para as outras e umas com as outras - cada dia mais.
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Nina Menezes Ricci 06/10/2020
Gratidão Vera, suas palavras me enchem de inspiração! Muita admiração por ti!
Vera Capilé 13/07/2020
Que mulher linda vc é! Com que doçura vc fala da gente! Muito grata por vc colocar pra todo mundo ver uma mulher sabia, inteira, presente nestes tempos tão conturbados! Continue informando assim! Parabéns!
2 comentários