Coragem não é, nunca foi, a ausência do medo. É tão somente a ação do coração, ou, em Latim, coraticum.
Daí o costume de antigas civilizações de se alimentar de ao menos um pedacinho do coração de seus guerreiros mais valorosos, ou de seus maiores inimigos, mortos em combate, pra que todos pudessem adquirir um pouco da coragem que os identificava em vida.
E é isso: coragem é a capacidade de se lançar às batalhas com garra, por inteiro, de peito aberto.
Parecemos tão mais corajosos quando somos jovens, heroicos e invulneráveis a ponto de comprar todas as brigas e cometer todas as pequenas transgressões que matariam nossos pais de preocupação, de manter sempre uma postura desafiadora e arrogante, cheia de certezas. Mas não somos.
Podemos ser mais ousados, inconsequentes, deliciosamente irresponsáveis, pois pouco ou quase nada temos a perder, mas não somos corajosos de fato.
Porque coragem de verdade precisa de consciência e conhecimento. A começar pela autoconsciência e o autoconhecimento, presentes do tempo pra aqueles poucos e maduros o suficiente pra saber que ignorar as sombras não faz com que elas desapareçam.
Corajoso é quem não só se conhece e aceita suas partes menos nobres, “menos perfeitas”, mas também as acolhe com carinho, aprende a amá-las, valorizá-las pra fazer delas seus diferenciais.
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Quem encara e trata suas feridas, permite que suas cicatrizes sejam vistas à luz do sol, com orgulho, como lembranças de guerra. Relíquias valiosas, histórias pra contar.
É quem abraça suas estranhezas, esquisitices, manias, humanidades, assume suas limitações sem culpa e sem grilos. Quem admite o não saber e se dá o direito de aprender com o erro. E erra. Erra muito. Erra grave. E se diverte com isso, cada vez mais sábio e menos sério (tanta seriedade pra que, né?).
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Quem, ainda mais em tempos tão incertos, não resiste às mudanças, cultivando o entusiasmo por se adaptar, o mágico frio na barriga das primeiras vezes.
Corajoso é ser autêntico, sem máscaras ou armaduras. Preferir ser completo a ser bom. É vencer, antes de tudo, a si mesmo. Rosnar de volta e enfrentar o lobo faminto e feroz que vive ali dentro.
E quem vence esse duelo é capaz de encarar e vencer todos os outros que possam vir pela frente. Porque aprende que dor (relacionamento, emprego, status, poder, amizade...) alguma é pra sempre. Tudo é impermanente, por melhor ou pior que seja.
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Que a vida flui, independente dos nossos planos e desejos. E dos nossos medos. E não tá nem aí.
Por tudo isso, desejo a você, do fundo do coração, a coragem de encontrar sua coragem.
Nota: Estamos em pleno “Setembro Amarelo”. Tenha a coragem de pedir ajuda se necessário. Você não está só.
Simara 11/09/2020
Que o conhecimento dos riscos e das consequências trazido pela maturidade não me roube aquela minha “coragem” juvenil! E que eu consiga cultivar a verdadeira coragem de ser sempre honesta comigo mesma. Amei o texto!
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