Fica determinado, a partir desta data, em toda a galáxia:
Que é direito inalienável do ser humano amar quantas vezes e a quem for possível e necessário, sem que isso seja motivo de julgamento, chacota, preconceito, inveja ou hostilidade.
Que, em caso de uma situação platônica, com desfecho dramático ou mesmo mal resolvida, fica aquele que sofrer impedido de desacreditar dos sentimentos de outrem, duvidar da existência do amor, ou evitar novas possibilidades afetivas.
Que o indivíduo em questão poderá (e deverá!) erguer a fronte, encher o peito de ar e se orgulhar de suas experiências, até – e principalmente – aquelas que lhe forem mais dolorosas, sem que isso lhe sirva como justificativa para uma possível melancolia, tristeza ou o isolamento do grupo social.
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Que igualmente deve, por força da Lei da Felicidade, utilizar o aprendizado das experiências anteriores como instrumentos de promoção das alegrias futuras, embora possa viver livremente seu luto, pranteando sua dor sem ser admoestado, contanto que o referido luto não dure mais do que uma estação, de preferência o Inverno.
Que todo e qualquer ser humano é digno e merecedor de experimentar, ao menos uma vez durante toda sua existência, o enlevo dos enamorados; o incômodo fio do ciúme na carne; o torpor dos sentidos da paixão; a ternura, proveniente de um gesto banal daquele que é razão de seu afeto; e o calor de outro corpo humano, acompanhado ou não do descompasso cardíaco que a isso precede.
Que não se configuram crimes contra a moral e os bons costumes, nem atentados ao senso do ridículo, os seguintes atos de um indivíduo que se encontre em situação de encantamento, a saber:
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Compor, ouvir ou mesmo cantarolar músicas românticas, ainda que bregas; escrever cartas, poemas, textos, falando de amor, ainda que sem jeito ou métrica;
Admirar, demonstrar entusiasmo ou responder emocionalmente a detalhes da paisagem, bebês rechonchudos, filhotes de cães e gatos, fenômenos da natureza ou, ainda, criações ficcionais de caráter emotivo;
Manifestar seus sentimentos em público, ainda que seja por meio de um beijo roubado ou de declarações ébrias e rasgadas, normalmente não correspondidas;
Ofertar presentes, mimos, dengos ou a si mesmo ao ser desejado;
Guardar lembranças, mantendo um santuário particular, em honra às divindades protetoras do prazer e dos desvarios, em seu coração;
Adotar canções, filmes, frases e outras obras de cunho artístico-filosófico como componentes de sua narrativa pessoal;
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Criar desculpas e justificativas esfarrapadas para súbitas mudanças de humor, estrelas nos olhos e sorrisos escancarados nos lábios;
Por fim, perambular pelo mundo impunemente aéreo, em um específico e alterado estado de consciência, perto daquilo que os místicos denominam nirvana e os mais carolas comparam ao paraíso na Terra.
Ficam revogadas todas as disposições em contrário, ad infinitum.
Simara 25/09/2020
Aaaaah!! Que texto lindo!! Esse texto tinha que ganhar o mundo!!
Sirlene 18/09/2020
Maravilhosa, vc sempre arrasando parabéns. ????????????????????????❤️❤️❤️
2 comentários