CONTEMPORANEIDADES Quinta-feira, 26 de Novembro de 2020, 12:45 - A | A

Quinta-feira, 26 de Novembro de 2020, 12h:45 - A | A

ALINE RÁ RÁ RÁ

Carta aberta para mim mesma

Aline Rá Rá Rá

Taurina com meio do céu em áries/carneiro. Mas se quiser saber sobre trabalho... sou publicitária e atriz por formação. Estive nos últimos anos concentrada (também) em desenvolver a minha fotografia, a produção, a escrita. Também estive empenhada em viver, maternar e desconstruir tudo que aprendi ao longo dos 35 anos que já começam a marcar a minha pele. Viva a desconstrução!

Eu tive um baque.

De repente (Nunca acredite que algo foi de repente porque nunca é. Aqui é só uma força de expressão) comecei a achar que não era uma boa mãe (não o suficiente). Comecei a carregar em mim o peso de tantas mulheres que não conseguiam amamentar seus filhos, ou que tinham optado pelo parto normal e não tinham conseguido. De repente não era mais eu falando em #depoisdamalena, mas uma quantidade gigantesca de mulheres que tiveram experiências diversas. De repente pareceu que o que eu tinha pra falar não era tão relevante.

De repente as fotos que eu fazia de famílias e gestantes no meu projeto Ame Comfoto (nem adianta procurar, eu acabei com o projeto) não eram mais necessárias, meu olhar foi abafado pra dentro da alma. De repente eu parei de escrever, parei de gozar, parei de rir e fazer rimas. De repente uma voz minha mesmo tomou conta da minha cabeça dizendo o que era bom fazer e o que não era. De repente eu que me achava uma pessoa bem resolvida, extrovertida e ousada já não fazia nada que comprovasse isso tudo. De repente eu parei. O mundo parou. Mas nada parou pra que eu me organizasse.

De repente me vi sem saída, me vi deitada, me vi afastada, me vi longe, me vi ferida, me vi má e invejosa de mim mesma, de mim antes. Antes do quê? Não sei! Já disse que nada é de repente. Não existe um marco, não existe um início, existe um durante que a gente nem sempre sabe como sair. Me deparei comigo sozinha. Sozinha. Sozinha. Sozinha.

Era eu, mãe, comunicadora, fotógrafa, atriz, poetisa, mas ao mesmo tempo nenhuma das alternativas anteriores. Não me reconheci. Já não era eu. Talvez eu esperasse encontrar a mesma pessoa de antes (antes do quê não sei). Talvez eu tivesse criado muitas expectativas. Talvez criaram expectativas sobre mim. Talvez eu precisasse rever tudo isso. E tudo isso é muita coisa, demanda tempo, dedicação, foco.

Resolvi me aprofundar em mim, na minha ancestralidade, nas minhas cicatrizes, no meu sangue, no meu sono, no meu corpo, na minha alimentação, na minha dor, na minha saudade, nos meus términos, nas minhas felicidades, na minha espiritualidade e consequentemente nas minhas certezas e foi aqui que o bicho pegou. Que certezas, Jeová?

Tô me recuperando de um baque muito forte, do meu próprio motim contra mim mesma, reivindicando melhor assistência, mais tempo de lazer, mais gozo pela vida e aquele outro gozo também que a gente já conhece, ou achava que conhecia. Porque sim, depois de uma avalanche dessa, meu amor, parece que a gente não conhece nem reconhece mais nada.

Sozinha, eu só tinha a mim. Minha carrasca e minha deusa. Sozinha eu entrei nas profundezas de plutão na casa 4 e netuno na casa 7. Aprendi que precisava me ouvir mais. Ouvir meu corpo falando, conforme estava na casa 10 com vênus e mercúrio em áries.

No final (Que não é o final viu?! Nunca é) eu só percebo como tudo isso é poderoso, como é forte e como é eficaz todo o pensamento que nutrimos, as palavras que falamos, os sonhos que desvendamos. Toda essa linha imaginária traçada milimetricamente ao longo de anos vai desembocar em algum lugar. Desembocou aqui. Aqui de onde falo (na verdade escrevo) o que eu nunca pensei que fosse escrever porque parecia errado expor assim tanta fragilidade. 

Eu não sei como fazer isso!

Não foi o Corona, não foi você. Fui eu mesma. Aqui dentro. Foi o sistema e as máscaras que somos induzidos a usar, sem questionar, achando que estamos fazendo o que sempre quisemos. Mas estamos cumprindo metas, preenchendo tabelas, gerando números. Me interessa mais sabe o que? Amar e mudar as coisas.

Hoje me encontro em frente aos castelos que criei para desconstruí-los todos e atear fogo a eles. Agradeço imenso pelo abrigo até hoje, mas ando interessada em me importar com o verdadeiro que há em mim, nas pessoas e em construir novas obras. De arte ou não.



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