Cair das nuvens é bem mais difícil que do vigésimo andar. As promessas não cumpridas, as verdades não ditas e os sonhos frustrados podem machucar mais do que o quebrar dos ossos ou o sangrar da carne.
Porque quase ninguém vê. E fingindo muito bem, quase ninguém percebe. Mas também quase ninguém leva a sério.
É uma dor calada, no escuro, de chorar escondido, de se envergonhar. Uma dor arrependida de ter acreditado. De quem, impotente, viu ruir o que se construiu em pequenas peças, com a paciência e dedicação das crianças arrogantes e carentes que somos, tentando operar prodígios para inutilmente despertar o enlevo de pais ausentes. De amigos sem empatia. De amantes entediados. De chefes cruéis. De nós mesmos.
Vamos aos poucos saindo dos escombros, revolvendo os restos para avaliar o que sobrou. Mas agora estamos permanentemente quebrados, para sempre trincados, marcados.
Gritos nos tiram a paz, sempre vindo das ruínas. Nunca param. São vozes conhecidas, em pedidos de ajuda desesperados, suplicando por vida.
A vida que ainda espera por nós, para novas construções, talvez a partir de bases mais sólidas, mais realistas.
A vida que desejamos e merecemos.