O vazio das perdas só é capaz de atingir a quem ainda não compreendeu que a existência é apenas um lampejo, um breve instante de uma longa narrativa, pequenos percursos de uma extensa jornada.
A perfeição dos ciclos da Natureza se reproduz infinitamente em nossa vida, tentando nos mostrar que nada termina, nada tem fim. Tudo se transforma em algo maior, melhor. Tudo evolui, passa a outro estado, seja de matéria ou consciência, deixando registrado em nós a força de sua presença.
A primavera não floresce sem que antes haja o recolhimento invernal. O dia não nasce sem que a noite escura o preceda.
Mesmo a pedra bruta precisa deixar seu silencioso repouso no ventre da terra, passar por mãos habilidosas e transformadoras para se tornar a joia que está destinada a ser.
Assim também é para nós, minúsculas partes do Todo, de onde viemos e para o qual retornamos, ainda que, vaidosos, pretensiosos, desejemos não ser.
Amores partem, despedindo-se ou não, para que outros, novos, cheguem e nos aperfeiçoem em nossas capacidades. Experiências se sucedem para que tragam à tona nossas qualidades e defeitos, para que nos confrontemos exatamente com o que precisamos tratar, trabalhar, curar em nós.
E o que não confrontamos se repete, retorna, muitas vezes por gerações, para que um dia, exaustos, possamos alcançar o entendimento necessário. Possamos, como mariposas em voos ansiosos, alcançar a luz que tanto perseguimos.
Não há morte, há movimento, constante e harmônico. Uma antiga, bela e misteriosa dança, de passos cadenciados, complexos e arriscados, à qual somos convidados todos os dias. Pois dancemos, sem nos preocuparmos com o amanhã.
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