Arcano 12, O Enforcado

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Quando achamos que já temos, somos e conquistamos tudo o que era possível, ironicamente é quando estamos mais vazios.

Vazios de sonhos, de propósitos e de nós mesmos, caímos presos na armadilha do comodismo, na segurança previsível da nossa zona de conforto.

E a vida se torna mais do mesmo. Passamos da ação à submissão, da atitude à espera.

Eis que nos entediamos, perdemos o controle sobre nós mesmos, sentimos o peso da impotência humana e entendemos que nossa aparente “completude” é mera ilusão. Sempre há algo por fazer, conhecer, aprender, viver, resgatar.

Mas nos conformamos. Deixamos que os dias passem, aceitamos de bom grado o que se apresenta diante dos olhos e está ao alcance das mãos. Colocamos a existência no modo automático.

Acontece que a alma sempre deseja mais. E o conflito é inevitável. Perdemos o sossego, o sono, o ar, o pouco da paz que nos resta em uma espiral de autojulgamento e descontentamento. As mesmas questões, os mesmos problemas, voltam dia após dia para nos confrontar, como monstros ameaçadores que tememos.

Então nos tornamos os farsantes e a farsa. Pálidos espectros, fantasmas vivos de promessas não cumpridas.

Não somos mais o que éramos, mas ainda não somos o que seremos. Estamos entre o ser e o não ser. Entre o que já acabou e o que ainda não começou.

Não nos damos conta, ou nos esquecemos, que o aprisionamento é voluntário. A tortura, o castigo que nos é imposto foi a sentença que nós mesmos proferimos nos tribunais da consciência. E podemos cortar a corda, abrir as grades, tirar as algemas assim que quisermos.

O que nos falta é um olhar autoindulgente, menos iludido, mais franco e amoroso para encarar falhas, defeitos e incompletudes. Ouvidos abertos às questões interiores com foco nas respostas.

Não temos, nem somos nem ainda conquistamos tudo, mas a felicidade é possibilidade e destino, desde que não nos acomodemos.

Desde que acreditemos na força do espírito, naquilo que vem misteriosamente dos céus ou de dentro, que nos anima e convida a prosseguir. De mãos dadas com alguém ou em passos solitários, mas sempre em frente, sempre em busca, parando vez ou outra para apreciar a paisagem. Mas sem nos esquecermos do que nos trouxe até ali nem para onde vamos.

Arcano 11, A Força