O prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) estuda decretar situação de emergência em Cuiabá por conta das queimadas e do tempo seco. A medida facilita a aquisição de equipamentos e o aumento do pessoal que compõe a Defesa Civil Municipal, responsável pelo combate aos focos de incêndio na cidade. Nesta quinta-feira (13) a Capital amanheceu coberta por fumaça.
O período de estiagem começou mais cedo este ano e, da segunda semana de julho até a primeira semana de agosto, a Defesa Civil municipal já atendeu a mais de 50 ocorrências de queimadas urbanas, o que resultou em autos de infração que chegam a quase R$ 2 milhões. Apenas neste mês foram mais de 25 focos de queimadas na cidade. De acordo com o Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), de julho para cá foram registradas mais de 1.550 chamadas de queimadas urbanas na Capital.
Dois meses sem chuva e com muito calor, mata seca e falta de conscientização das pessoas que ateiam fogo são uma combinação explosiva que leva a desastres ambientais como o visto nesta terça e na quarta-feira (11 e 12) na rodovia Helder Cândia (MT-010). Na quarta-feira (12), brigadistas da Defesa Civil municipal chegaram ao local por volta de 10h30 e só saíram de lá após as 18h. Corpo de Bombeiros e funcionários de empresas particulares também trabalharam em conjunto para conter as chamas.
Nesta manhã de quinta-feira (13) eles retornaram para verificar se não há mais focos de incêndio e fazer imagens georreferenciadas, que servem de base para o auto de infração contra os proprietários dos terrenos atingidos. Hoje a Defesa Civil atendeu a uma queimada na região de São Gonçalo Beira Rio.
Vale ressaltar que a queimada urbana é crime ambiental em qualquer época do ano, previsto em lei federal (nº 9.605) com penas que vão de multa a reclusão de 1 a 4 anos. Na zona rural, o período proibitivo este ano vai de julho a setembro. A Lei complementar nº 004/1992 também proíbe as queimadas de vegetação nos terrenos baldios. Mesmo que o dono do terreno não tenha dado início ao fogo, é dele a responsabilidade pelo cuidado do imóvel.
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O Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), por meio do telefone 193, é a principal fonte receptora de denúncias de queimadas, cujas ocorrências são atendidas prioritariamente pelo Corpo de Bombeiros. A Defesa Civil municipal também atua nesses casos e está apta a receber denúncias pelo telefone (65) 3623-9633, em horário comercial, ou pelo e-mail [email protected].
Segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTec), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), não há previsão de chuva para este mês, com previsão de temperatura elevada nos próximos dias. No domingo, por exemplo, a máxima prevista é de 41º C.
Pantanal em chamas
No Pantanal os primeiros focos de incêndio foram registrados em 21 de julho, em Poconé. Dados preliminares da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) apontam que já foram atingidos 108 mil hectares em Poconé e 77 mil hectares em Barão de Melgaço.
Na última semana 101 homens participaram da Operação Pantanal II de combate aos focos de incêndio na região que empregou forças dos Bombeiros Militares de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, militares da Força Aérea Brasileira e da Marinha e funcionários do Sesc Pantanal, hotel que fica em uma das áreas atingidas pelas queimadas na região.
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As equipes em solo contaram com o auxílio de dois aviões Air Tractor que lançaram 3 mil litros de água a cada voo.
“O avião lança a água pra baixar o fogo, não tem como chegar perto de colunas de oito metros de fogo. Então, por ar baixamos o fogo e a equipe em terra segue agindo. Por que no final de tudo, quem apaga é o homem", explica o Cel BM Paulo André Barroso, secretário Executivo do Comitê do Fogo.
As equipes seguem atuando nos demais pontos considerados prioritários.
Fogo e Covid
Os danos à saúde do ser humano por conta das queimadas são inegáveis. No ano passado a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em estudo coordenado pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saude (Icict) mapeou o impacto das queimadas para a saúde infantil na região amazônica. A pesquisa concluiu que, nas áreas mais afetadas pelo fogo, o número de crianças internadas com problemas respiratórios dobrou.
Foram cerca de 2,5 mil internações a mais, por mês, em maio e junho de 2019, em aproximadamente 100 municípios da Amazônia Legal, em especial nos estados do Pará, Rondônia, Maranhão e Mato Grosso - o que acarretou custo excedente de R$ 1,5 milhão ao Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com pesquisas, viver em uma cidade próxima aos focos de incêndio aumenta em 36% o risco de se internar por problemas respiratórios.
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O levantamento aponta ainda que em cinco dos nove estados da região houve aumento na morte de crianças hospitalizadas por problemas respiratórios. Em Comodoro (MT) o estudo revelou que o número de internações foi mais de cinco vezes maior do que o esperado. Mas o chamado “material particulado” - resíduo tóxico gerado por queima - pode também alcançar grandes cidades situadas a centenas de quilômetros dos focos de queimadas, devido ao transporte de poluentes pelos ventos.
Em tempos de pandemia de Covid-19 a situação é ainda mais preocupante. Períodos de estiagem, seca e queimadas normalmente levam centenas de pessoas para hospitais e postos de saúde por conta de problemas respiratórios, em especial crianças e idosos. Este ano elas encontrarão os leitos ocupados por infectados pelo novo coronavírus e, o pior, também correm o risco de se infectarem por serem estes locais ambientes de grande circulação do vírus.