Ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no governo de Michel Temer, o empresário Blairo Maggi considera que a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcará o retorno do respaldo internacional ao Brasil. Esse suporte foi perdido, segundo Maggi, no momento em que o atual presidente Jair Bolsonaro, juntamente com o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, resolveram ir para o enfrentamento com o mercado intencional e as Organizações Não Governamentais no que diz respeito à preservação ambiental no país.
“O presidente Bolsonaro prejudicou muito o setor agrícola e foi a questão ambiental. E não foi por mudanças efetivas que foram feitas, mas pelo posicionamento que o ministro Ricardo Salles teve de enfrentamento e que o presidente fez esse enfrentamento. O confronto com o mercado internacional, com as ONGs, e se perdeu esse acordo de conversa e participação de mudanças necessárias para que se pudesse fazer as coisas avançarem”, asseverou em entrevista concedida ao Brazil Journal.
Com o Ministério sob o comando de Ricardo Salles, o Brasil viu avançar o desmatamento ilegal, principalmente na Amazônia, o número de incêndios florestais. O avanço das atividades de madeireiros e garimpeiros ilegais, assim como o desmonte da fiscalização. Ainda foram extintas áreas de conservação e a Mata Atlântica sofreu ataques.
Ricardo Salles se viu forçado a deixar no cargo, em abril de 2020, depois de ver vazado um áudio no qual defendia “passar a boiada” enquanto os olhos estavam voltados para a pandemia de coronavírus. Com passar a boiada Salles se referia a afrouxar a legislação ambiental brasileira para favorecer aqueles que não cumprem as regras.
“Com a velocidade que nós perdemos esse respaldo internacional, a gente vai reconquistar agora com o novo governo, porque o presidente Lula ele já declarou ‘eu vou me preocupar com as pautas ambientais, as mudanças climáticas são importantes, eu tenho que estar inserido dentro disso’. Então, você deixa de remar contra a correnteza e passa a remar na favor da correnteza”, avaliou Blairo Maggi, que além de ser um dos maiores produtores do país, ainda presidente o Conselho da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
A participação do presidente eleito na COP-27, que ocorre no Egito, fez o Brasil retomar o protagonismo na luta pela preservação ambiental. Lula se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal no país até 2030, assim como lutar contra o aquecimento global e as mudanças climáticas. Para Lula, esses dois pontos passam prioritariamente pelo combate à fome e à pobreza.
O presidente eleito ainda cobrou ajuda financeira de países mais ricos, prometida na COP-15, em 2009, para que os países com mais dificuldades financeiras possam atuar efetivamente contra as mudanças climáticas.
Horas depois do anúncio da vitória de Lula no segundo turno das eleições, o governo da Noruega anunciou a retomada dos investimentos feitos ao Fundo da Amazônia. O fundo foi criado em 2008 e tem como objetivo financiar projetos de prevenção e combate ao desmatamento e também a conservação e uso sustentável da floresta Amazônica.
O financiamento da Noruega foi interrompido em 2019, quando o então ministro Ricardo Salles quis fazer mudanças no fundo. A intenção era utilizar os recursos para desapropriação de terras.
Até ser congelado, o fundo tinha apoiado 103 iniciativas e contava com R$ 3,4 bilhões em caixa. A Noruega era responsável por contribuir com 93% dos recursos e o restante cabia a Alemanha.